- E que os escreve. Vamos. Mas, se insiste em recusar, diga-me então quem é que os escreveu na parede da capela da Senhora da Saúde para eu me dirigir a ele.
- Então houve quem escrevesse versos na parede da capela? - perguntou Augusto, sorrindo.
- Não que eu visse; mas já duas pessoas mo afirmaram, e as suspeitas de ambas recaíram no mesmo homem.
- Quem foram essas pessoas?
- De uma o ouvi agora mesmo. Foi Ermelinda.
- Ah!
- A outra foi Lena.
- Le... A Sr.ª D. Madalena?
- É verdade, minha irmã. E estranhou, com razão, que eu o não soubesse.
- E como o soube ela?
- Leu-os, e pela leitura conjecturou o autor.
Augusto calou-se como absorvido por um pensamento, que todo o preocupava.
Ângelo continuou falando, sem que fosse escutado; afinal concluiu, dizendo:
- Então quer falar ao poeta da ermida para que me dê o que lhe peço?
- Poesia não lhe pode ele dar; agora se... alguns versos o satisfazem...
- Sim, sim, venham os versos; que a poesia eu a procurarei neles, até a achar. Desde já lhos agradeço.
- A ele?
- A ambos - respondeu Ângelo, rindo. - E agora diga-me Augusto: ainda está resolvido a viver aqui sempre enterrado? Não pensa em mudar de vida?
- Nenhuma outra me namora mais; o destino que a bondade da Morgada me oferecia... não tenho coragem para aceitá-lo.
Assusta-me o peso do crepe.
- Nem eu lhe digo que deva aceitar esse. Mas o Augusto não terá amigos que o ajudem a seguir outros destinos menos obscuros do que este e menos pesados do que o que o legado lhe impunha? Meu pai já...
- Que quer? Não me posso vencer até pedir ou aceitar de outrem auxílios, quando Deus mos não tem recusado ainda; nem sei até se esses destinos, que diz menos obscuros, me fariam mais venturoso.