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Capítulo 13: XIII

Página 201
Há índoles que nasceram afeiçoadas para a obscuridade.

Incomoda-as a demasiada luz. Umas plantas querem ar, e sol e luz; outras vivem aí em qualquer canto escuro e obscuro, e lá mesmo dão flor. Porque é isto não sei, mas...

- Sei eu - disse uma voz da parte de fora da janela, junto da qual se passara o diálogo...

Voltaram-se os dois ao ouvi-la. A figura do ervanário desenhava- se no vão da janela, como um retrato de velho num caixilho de galeria.

- Ah! o Tio Vicente! - exclamou Ângelo, correndo-lhe ao encontro.

O ervanário encostou-se, ainda de fora, ao peitoril da janela, ficando assim com meio corpo para dentro da sala.

- Viva o nosso doutor! - disse ele, sorrindo, a Ângelo. - Por enquanto ainda esse coraçãozito está como era. Não esqueceu os seus amigos da aldeia.

- Está como sempre estará - respondeu Ângelo.

- Sempre! - repetiu o velho. - Sempre e nunca são duas palavras de terrível significação... Mas enfim... de bom metal é o coração; assim o não enferrujem os ares da cidade, como ao de... como ao de tantos... E, mudando subitamente de tom, disse para Augusto:

- Com que dizias tu que não sabes por que algumas plantas vivem de pouca luz e de pouco ar, aí em qualquer buraco do muro? É porque vivem muito pelas raízes essas. As plantas vivem do ar pelas folhas e vivem da terra pelas raízes. Lá diz aquele livro da História Natural que eu tenho. Umas prendem-se pouco ao chão; precisam, pois, de se abrirem muito ao ar para poderem viver; outras, porém, profundam tanto na terra, com tantas raízes se seguram, que delas lhe vem todo o sustento e não desdobram muitas folhas, nem crescem em grandes ramos para o ar. Como umas e como outras há homens no Mundo. Tu és dos que deixam ganhar raízes ao coração e delas vivem.

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pág. 201 (Capítulo 13)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 201

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506