A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 13: XIII Pág. 202 / 508

Que te importa o mais? Essas grandezas que os outros procuram? Mas é preciso cautela, rapaz! Há corações como a hera que, onde quer que se encosta, prende-se com raízes. Quem é assim deve dirigir com prudência as suas inclinações. Se para mau lado dobra, se se encosta a árvore de preço... mal dele! que o separarão com força, fazendo-lhe estalar todas as raízes, que o prendiam.

As palavras, de uma obscuridade sibilina, ditas pelo ervanário, parecia terem um sentido para Augusto, que visivelmente se perturbou ao ouvi-las.

- Que está aí a dizer, Tio Vicente! - disse Augusto, sem ousar fitar o velho.

- Nada. Tonterias de velhice. A prudência que os anos dão vê longe e fundo, rapaz... É verdade que... às vezes... o arrojo dos moços é também guia feliz... Anda lá com a tua estrela, anda... Ao que já vejo, não sei se te possa chamar louco... como ao princípio não duvidei fazê-lo. É certo que é pouco seguro o terreno em que sustentas os teus castelos.

- Os meus castelos! Que castelos faço eu?

- Não hei-de ser eu que tos mostre... Só te quero avisar que não ponhas grande fé em sonhos... Lembras-te do que se passou no monte da ermida?

- No monte da ermida?

- Não viste por lá no outro dia uns sinais de trovoada? A inconstância é sempre de recear. O que naquela manhã se passou, o que então vi...

- Que viu?... Que se passou? O ervanário demorou por algum tempo o olhar em Augusto e com tal expressão, que o obrigou a desviar o seu; depois acrescentou:

- Nada; o que todos os dias acontece. O céu azul fez-se pardo, a luz clara cobriu-se de sombras, os raios do Sol tornaram-se torrentes de chuva. Pois não te lembras?... E tudo devido a uma mudança... de vento... a uns ares que vinham do sul... Augusto não entendia ou fingia não entender estes misteriosos dizeres do ervanário.





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