As palavras, de uma obscuridade sibilina, ditas pelo ervanário, parecia terem um sentido para Augusto, que visivelmente se perturbou ao ouvi-las.
- Que está aí a dizer, Tio Vicente! - disse Augusto, sem ousar fitar o velho.
- Nada. Tonterias de velhice. A prudência que os anos dão vê longe e fundo, rapaz... É verdade que... às vezes... o arrojo dos moços é também guia feliz... Anda lá com a tua estrela, anda... Ao que já vejo, não sei se te possa chamar louco... como ao princípio não duvidei fazê-lo. É certo que é pouco seguro o terreno em que sustentas os teus castelos.
- Os meus castelos! Que castelos faço eu?
- Não hei-de ser eu que tos mostre... Só te quero avisar que não ponhas grande fé em sonhos... Lembras-te do que se passou no monte da ermida?
- No monte da ermida?
- Não viste por lá no outro dia uns sinais de trovoada? A inconstância é sempre de recear. O que naquela manhã se passou, o que então vi...
- Que viu?... Que se passou? O ervanário demorou por algum tempo o olhar em Augusto e com tal expressão, que o obrigou a desviar o seu; depois acrescentou:
- Nada; o que todos os dias acontece. O céu azul fez-se pardo, a luz clara cobriu-se de sombras, os raios do Sol tornaram-se torrentes de chuva. Pois não te lembras?... E tudo devido a uma mudança... de vento... a uns ares que vinham do sul... Augusto não entendia ou fingia não entender estes misteriosos dizeres do ervanário.