Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 14: XIV

Página 210
Vitória, que, ainda que tarde, parecia tentear um lenitivo aos antigos rigores da humanidade, em uma bonita cama de lençóis de renda com cercadura doirada; colcha de cetim bordado, e colchão e travesseiros da mais macia penugem de aves americanas. Ao lado, Nossa Senhora e S. José, de proporções quase iguais às do menino; mais longe a vaca e a mula tradicionais. Os episódios, porém, eram inquestionavelmente o mais interessante da obra. Vários grupos de pastores, soldados e fidalgos de todos os tamanhos, feitios e vestuários, ornavam a cena. Ali um cego tocador de sanfona; um grupo de galegos dançando, ao som da gaita-de-foles; uma pastora com ovos mais adiante; ao lado, um grupo celebrando um picnic, perfeita actualidade, tudo em mangas de camisa, com gravata e botas de cano; - outros fumando e bebendo cerveja. Uma amazona inglesa com o seu jockey galopava pelas cercanias de Belém; um vareiro e uma vareira caminhavam a par com ofertas para o menino. Ao longe, nos visos da serra, apareciam os três Reis Magos, que deviam levar dez dias a chegar abaixo.

Não esqueceu o inspirado autor daquele monumento escultural os muros de Jerusalém. Eles lá estavam coroados de ameias e de milicianos fardados à inglesa e armados de lanças e arcabuz. Eram gigantes aqueles guerreiros, pois, não obstante estar a muralha no plano do fundo do quadro, qualquer deles era duas vezes maior do que as figuras do plano da frente. Do alto da muralha arvorava-se a bandeira portuguesa. Havia vários santos espalhados pelas agruras daquelas montanhas, e, entre os aditamentos feitos pela devoção de D. Vitória ao presepe, contava-se o de um Santo António de Lisboa, que, apesar de taumaturgo, parecia muito admirado de se ver naquele tempo e lugar. Um galo colossal soltava do telhado do presepe o grito anunciador; anjos e querubins espreitavam do Céu por entre nuvens de algodão e estrelas de ouropel.

<< Página Anterior

pág. 210 (Capítulo 14)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 210

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506