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Capítulo 15: XV

Página 227
Via-o disposto a idealizar a mulher, a mais perigosa e mofina monomania que, dizia o tal, pode transtornar o cérebro de qualquer homem.

Com aquela ausência de escrúpulos com que, todos os dias, caracteres, aliás não pervertidos, levianamente caluniam ou ferem de suspeitas reputações de todo o género, ele fazia irreverentes alusões à Morgadinha e zombava de Henrique, que ainda tomava a sério as isenções de uma rapariga de vinte e três anos. Acabava por o aconselhar a que indagasse de algum primo tímido e modesto, ainda que menos ingénuo decerto do que ele Henrique se estava mostrando.

Esta carta fez mal a Henrique. Exacerbou-lhe a doença, que estava em via de cura. Um espírito mefistofélico parecia havê-la ditado. Henrique transportou-se pela imaginação, depois de lê-la, a um dos círculos que habitualmente frequentava em Lisboa; supôs- -se a fazer ali a narração da sua vida na aldeia, e parecia-lhe estar vendo os sorrisos com que o escutariam, e ele próprio construía os epigramas, com que lhe seria, por certo, comentada a narração. E então uma vergonha de má índole, vergonha do homem que põe um preceito de elegância acima de um ditame de moral, fazia-o corar, apesar de a sós consigo mesmo. Voltava a ler a carta, que lhe parecia ditada pela experiência e pelo bom-senso, enquanto que a ingenuidade das suas crenças se lhe figurava ridícula e desarrazoada.

Quem há que não tenha tido momentos destes? Quem se pode gabar de não ter perguntado um dia aos seus escrúpulos mais nobres se não são meros preconceitos, que ficaram de uma educação acanhada? Quem não pôs um momento em dúvida as sublimes verdades que a mãe lhe ensinou em criança? Henrique estava passando por um desses acessos de cepticismo. Madalena era já para ele uma astuciosa, que muito se deveria ter rido da sua simplicidade; e tanto o incomodava esta ideia, que prometia a si próprio ser daí por diante mais arrojado.

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pág. 227 (Capítulo 15)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 227

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506