Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: XV

Página 232
Enfim, rompeu o primeiro o silêncio:

- Pobre rapaz! Diz-me para aí tudo o que tens. Para que te metes a esconder de mim aquilo que eu há tanto te leio nos olhos, criança?

- O quê, Tio Vicente? - perguntou Augusto, inquieto.

- O quê? Ouve, Augusto. Deu-te Deus o engenho, sem te esfriar o coração: são dons do Céu, que se pagam caro e com lágrimas, rapaz. Bondade de coração, com a cabeça... assim, assim... a dar esmolas aos pobres se satisfaz; cabeça de fogo, mas coração de gelo... todos os meios de levar ao fim ambições, tanto os bons como os maus, todos lhe servem; mas coração como o teu, com o espírito que tens!... Ai, pobre Augusto, se se escapa ao infortúnio, é por milagroso poder do Senhor.

- Não o entendo, Tio Vicente - disse Augusto, com manifesta confusão.

- Não! Olha para mim. E vê se te atreves a repeti-lo.

Augusto baixou a cabeça.

O velho sorriu com ar de comiseração e simpatia.

- Tu ainda não sabes fingir. Vamos lá; e cuidas que me não havia de custar, se não tivesse acertado? E, depois de breve pausa, continuou:

- Mas ainda quando penso em como tu, uma cabeça forte, assim te deixaste enfeitiçar!... E, tomando o cálice, que tinha defronte de si, disse com resolução:

- Quero beber à tua saúde, Augusto, e para que em breve se te desfaça essa loucura.

Quando ia a levantar o cálice aos lábios, a mão de Augusto susteve- lhe o braço.

- Não beba. Loucura embora, deixe-me viver e morrer com ela.

Sou feliz assim.

- Ah! - disse o velho ervanário, tomando um ar mais grave; e poisou o copo, sem desviar de Augusto o olhar penetrante e fixo.

Augusto, depois de um curto silêncio, prosseguiu com maior veemência e colorindo-lhe as faces um não costumado rubor:

- Sim. Porque o não hei-de confessar? Essa loucura que diz, trago-a comigo, vivo com ela e quase que para ela.

<< Página Anterior

pág. 232 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 232

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506