A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 16: XVI Pág. 240 / 508

- Adivinho a gravidade do caso. O filhito do boieiro, o teu afilhado predilecto, tem algum princípio de sarampo ou de garrotilho, e vens...

- Não, não. Diga-me, Tio Vicente: tem muito amor a esta casa e a este quintal?

O velho tornou-se imediatamente sério.

- Se lhe tenho amor?! Que pergunta!

- Tem?

- Nasci aqui, filha.

- Custar-lhe-ia a...

- A quê?

- A... a...

E Madalena hesitava.

- Fala! - insistiu o velho, já inquieto.

- A separar-se dela?

O ervanário respondeu simplesmente:

- Ah! morreria.

Madalena fez um gesto de aflição.

Em Vicente crescia o desassossego.

- Mas... Diz, Madalena: o que significam essas palavras?

- É que...

- Explica-te! - exclamou o ervanário, quase imperiosamente.

- Ouça-me, Tio Vicente; ouça-me, mas não se aflija. Eu vim de propósito para o prevenir. Mas, por amor de Deus, sossegue; senão tira-me o ânimo de continuar.

- Que sossegue, e tu a atormentares-me com essas demoras!

- Perdoe... Fala-se em deitar abaixo estas árvores e esta casa, para... O ervanário de um ímpeto pôs-se a pé. Fulgurou-lhe nos olhos um relâmpago de ira terrível! Madalena calou-se, assustada.

- Deitar abaixo estas árvores e esta casa?! Quem?... Quem se atreve? Pois que venham! que venham! Mas, reparando no terror que estava causando a Madalena, procurou reprimir-se, e, com uma voz que ele se esforçava por tornar tranquila, continuou:

- Mas vejamos. Então querem, dizes tu... Fala, Lena, fala... Dize o que sabes. Quem é?... Para que fim? Pois quem pode lembrar- se de...? Fala, bem vês que eu estou sossegado, filha.

- Há um projecto de estrada...

- Ah! - disse Vicente, com um grito de raiva. - Não digas mais. Já sei - continuou com renascente exaltação. - Já sei. Adivinho o resto.





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