- Não, não. Diga-me, Tio Vicente: tem muito amor a esta casa e a este quintal?
O velho tornou-se imediatamente sério.
- Se lhe tenho amor?! Que pergunta!
- Tem?
- Nasci aqui, filha.
- Custar-lhe-ia a...
- A quê?
- A... a...
E Madalena hesitava.
- Fala! - insistiu o velho, já inquieto.
- A separar-se dela?
O ervanário respondeu simplesmente:
- Ah! morreria.
Madalena fez um gesto de aflição.
Em Vicente crescia o desassossego.
- Mas... Diz, Madalena: o que significam essas palavras?
- É que...
- Explica-te! - exclamou o ervanário, quase imperiosamente.
- Ouça-me, Tio Vicente; ouça-me, mas não se aflija. Eu vim de propósito para o prevenir. Mas, por amor de Deus, sossegue; senão tira-me o ânimo de continuar.
- Que sossegue, e tu a atormentares-me com essas demoras!
- Perdoe... Fala-se em deitar abaixo estas árvores e esta casa, para... O ervanário de um ímpeto pôs-se a pé. Fulgurou-lhe nos olhos um relâmpago de ira terrível! Madalena calou-se, assustada.
- Deitar abaixo estas árvores e esta casa?! Quem?... Quem se atreve? Pois que venham! que venham! Mas, reparando no terror que estava causando a Madalena, procurou reprimir-se, e, com uma voz que ele se esforçava por tornar tranquila, continuou:
- Mas vejamos. Então querem, dizes tu... Fala, Lena, fala... Dize o que sabes. Quem é?... Para que fim? Pois quem pode lembrar- se de...? Fala, bem vês que eu estou sossegado, filha.
- Há um projecto de estrada...
- Ah! - disse Vicente, com um grito de raiva. - Não digas mais. Já sei - continuou com renascente exaltação. - Já sei. Adivinho o resto.