É teu pai que o determina; é teu pai que o resolveu?
Madalena baixou a cabeça com dolorosa expressão.
O furor do velho exaltou-se outra vez.
- Teu pai! Teu pai, Lena! Então esse homem jurou matar-me?
- Tio Vicente!
- Ele não sabe o que são para mim estas árvores e estas paredes? Ele não sabe que a minha alma está nelas, presa a estas raízes? que com elas se despedaçará? Esse homem sem coração não vê que são estas as minhas afeições, as únicas? A minha única família? Ele, o companheiro dos meus primeiros anos! que, como eu, aí brincou, à sombra dessas mesmas árvores e sob os olhares de meu pai, que também o abençoava, tão duro de coração se fez, que, sem respeito por estas memórias todas, assim me quer separar do que me dá vida, do que ainda me prende ao mundo? E é teu pai este homem, Lena?
- Por quem é, Tio Vicente; ouça-me. Deixe-me dizer-lhe ao que vim, que talvez tudo se remedeie ainda.
- Sim, sim; tudo se remediará... com a minha morte. Talvez que ela seja útil a teu pai... talvez precise dela.
- Oh! não creia, não creia.
- É duas vezes doloroso o golpe; porque me separa do que amo deveras e por vir da mão de quem vem. Eu era amigo de teu pai, Lena. Acredita que o era... ainda. Conheci-o tão generoso e tão inocente como teu irmão Ângelo. Muitas vezes me entusiasmei ao ouvi- -lo falar dos seus projectos. E acreditei nele. Tinha então no olhar um fogo, que não mentia. Vi-o seguir a carreira pública e acompanhei- o com a minha fé. Não tardaram os primeiros desenganos; não lhes quis dar crédito ao princípio. Vieram outros e outros. Fui vendo então que os maus ares daquela terra tinham embaçado o brilho do carácter, que eu julguei melhor do que os outros. Mas o pior dos desenganos estava-me reservado ainda.