Para teu pai hoje os homens são medidos pelos votos que podem lançar na urna eleitoral!
- Por amor de Deus, Tio Vicente, não fale assim! Não duvide de meu pai! - exclamou Madalena, a quem cruelmente estavam afligindo as recriminações amargas do ervanário. - Meu pai estima-o e respeita-o. Não tem o coração endurecido que diz. Ele mesmo amanhã aqui há-de vir. Verá então.
- Ele? Amanhã?...
- Para isso venho preveni-lo. Não o receba com asperezas, Tio Vicente; fale-lhe com brandura. Talvez o comova, talvez seja ainda possível valer a tudo. Ainda não está decidido... Julgo... E que estivesse...
- Amanhã! Teu pai vem aqui amanhã? E ousa vir ele próprio anunciar-me o que sabe que vai ser uma sentença de morte?
- Não; ele ignora o mal que isto lhe causa, creia. Sabendo-o, verá como...
- Teu pai conhece-me Madalena. Teu pai conhece-me, e há muito. Não julgues que pode errar, calculando o efeito deste golpe. Mas que queres tu? Ensinaram-lhe já a avaliar em pouco as venetas de um velho quase tonto. Homens que trazem o pensamento em interesses tão altos, não têm vista para estas pequenas desgraças.
Madalena sentia-se possuir de uma profunda tristeza, ao ouvir falar o ervanário. Era uma dolorosa provação para o seu amor de filha ver assim uma nuvem de desconfiança ofuscar a ideal concepção que ela formara do pai, e não ter forças para a afugentar. Às vezes uma dúvida cruel fazia-lhe, a seu pesar, supor que o ervanário tinha razão. Agora só conseguia opor um gesto suplicante àquelas acerbas acusações, que por muito tempo ainda desatenderam esta súplica muda.
Afinal serenou a violência da irritação do velho; sucedeu-lhe, porém, uma comoção profunda, dominado por a qual disse a Madalena:
- Sossega, Lena; amanhã eu receberei teu pai sem a menor aspereza.