Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 18: XVIII

Página 282

Os risos e as galhofas desordenaram, segundo o costume, por muito tempo a regularidade do espectáculo. Todos tiravam pitadas, todos falavam e riam e guinchavam, todos fingiam espirrar e não se ouvia senão: «Dominus tecum» e «Deus te salve» no meio de toda aquela confusão. Porém a um sinal de mestre Pertunhas, que deixou por um pouco folgar o espírito das massas, tudo entrou na ordem.

Preparava-se nova transição dramática. O criado, que vai a sair, volta, dizendo com gesto espantado e tom exclamatório:


Jesus, Jesus, que é isto?
Jesus do meu coração!
O sinal da cruz me livre
De tão terrível visão.

Era a Fama que aparecia.

Ermelinda entrava em cena.

No meio daquelas figuras rústicas, e mais ou menos grosseiras que entravam no auto, a figura delicada e angélica de Ermelinda produzia tão completo contraste, que um murmúrio significativo de profunda sensação correu pelo auditório.

Ermelinda estava surpreendente de formosura. Haviam-se associado ao que era nela dotes naturais os cuidados de Madalena e de Cristina, para lhe darem a aparência superior.

O próprio Henrique, que até ali estivera comentando maliciosamente o espectáculo, não pôde reter uma exclamação de surpresa, que foi secundada por o conselheiro. É que parecia que um verdadeiro anjo ocupava agora a cena.

A simplicidade do vestir concorria para esse efeito.

Ermelinda trazia uma longa túnica alvíssima e de amplas mangas, que lhe descia solta dos ombros sem sacrificar a menor beleza dos graciosos contornos e esbeltas proporções daquela criança, que prometia ser uma mulher escultural. Os cabelos, cuja cor loira era de uma pureza rara, caíam-lhe desatados e profusos sobre os ombros, brilhando como fios de ouro, na alvura dos vestidos; a fronte ficava-lhe livre, e o oval das faces sobressaía naquela moldura natural.

<< Página Anterior

pág. 282 (Capítulo 18)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 282

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506