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Capítulo 18: XVIII

Página 284


Soavam menos distantes
Sinistros brados de dor,
Choros de mães e de infantes,
Cantos de morte e terror.


Vi anjos de asas nevadas
Em bandos subir ao Céu,
Quais pombas amedrontadas
Fugindo à voz do escarcéu.


«Onde ides? Quem vos persegue?
«A que tormentas fugis?»
Um, que triste o bando segue,
Estas palavras me diz:


«Somos as almas de infantes
«Mortos em guerra feroz;
«Inda das mães delirantes
«Nos chama a sentida voz.


«Só a materna saudade
«Nossa carreira detém,
«Embora no Céu, quem há-de
«Esquecer o amor de mãe?»


Disse e o semblante formoso
Com as asas encobriu.
E ao bando silencioso
Silencioso se uniu.


Eu segui. Na ímpia cidade
Aterrada penetrei...
Aí, da fera humanidade
Os meus olhos desviei!


Que cena! Corre nas praças,
Sanguinária multidão,
Como nuvem de desgraças
Semeando a desolação.


Caem por terra sem vida
Tenras crianças às mil,
E uma turba enfurecida
Corre à matança febril.


As mães pálidas, chorosas,
Suplicam, pedem em vão!
Nessas feras sanguinosas
Não palpita um coração.


Outras tentam, em delírio,
Os seus filhos disputar,
E com eles no martírio
Gostosas se vão juntar.


Sobre a terra ensanguentada
Eu soluçando, ajoelhei,
E, de intensa dor magoada,
A Deus piedade implorei.


Findava a prece, e uma estrela
No horizonte despontou,
Pura, cintilante, bela
O caminho me traçou.


À humilde e escondida estância
Da venturosa Belém
Cheguei; vi um Deus na infância
Nos ternos braços da mãe.


Minha colheita de dores
Naquele berço depus,
Da humildade aos rigores
Pedi remédio a Jesus.

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pág. 284 (Capítulo 18)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 284

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506