- Desta vez foi de uma severidade!! - pensou Henrique. - Cada vez me convenço mais de que o idílio existe e que vai já muito adiantado. Mas agora me lembro: e o meu duelo com o Romeu, que nunca mais vi? Não foi má tolice aquela minha! Preciso de procurar o homem para lhe dizer que o caso não vale a pena.
O despeito de Madalena pelas palavras de Henrique fora desta vez mais intenso; quase chegou a fazê-la desesperar da tenção que alimentava ainda, pois disse a Cristina:
- Ai, filha, que não sei se deva curar-te antes a ti do que a ele.
- Que dizes?!
- Nada. Há doenças que fazem desesperar os médicos.
Era já noite. Os grupos, que ainda depois do auto se conservaram no pátio do Mosteiro, a brindarem à hospitalidade dos proprietários, foram dispersando pouco a pouco.
A banda de mestre Pertunhas saiu também com o fim de se preparar para as serenatas a casa do Brasileiro e de várias personagens da terra, a quem era devido cantar os Reis.
Ângelo saíra da sala. Fora para o fim da rua de sobreiros, anterior ao pátio da quinta, esperar por Ermelinda para lhe dizer adeus.
À medida que a noite se cerrava, parecia que se estendiam as sombras à fronte e ao coração do pobre rapaz.
Era a noite de Reis, a última dos dias de férias; na manhã seguinte devia partir com o pai para Lisboa.
Que amargura a destas últimas horas! Que intensas saudades não se amontoam no coração das crianças ao expirar o termo desse feliz espaço de tempo, que viveram para os carinhos da família e para os folguedos despreocupados! Percebe-se em nós mesmos aquela iminência de lágrimas, que à menor palavra rebentam.
Quem não terá recordações de infância a falar-lhe disto? O pátio despovoara-se de gente; através das vidraças da casa viam-se já brilhar as luzes interiores.