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Capítulo 18: XVIII

Página 289
Com o olhar fito no chão, a cabeça inclinada, Ângelo permanecia imóvel. Cortejavam-no, ao passar, homens e mulheres, sem que ele desse por isso.

De repente voltou-se, porque ouviu atrás de si uns passos conhecidos.

Era Ermelinda, que voltava para casa. O pai ficara atrás a pôr em ordem as roupas e mais objectos que serviram no auto.

- Esperava por ti, Ermelinda, para te dizer adeus - disse Ângelo.

- Então vai embora?

- Vou amanhã - respondeu Ângelo, com a voz presa de comoção.

- Muito cedo?

- De madrugada.

Os dois calaram-se por algum tempo, olhando para o lado.

- E agora quando volta?

- Eu sei lá, agora... só para Agosto.

Novo silêncio.

- Então... adeus...

- Adeus... adeus... Adeus, Ermelinda.

E com a voz quase sumida e os olhos enevoados de lágrimas, Ângelo estreitou contra o peito aquela que de pequena tratara como irmã, e que chorava ainda mais do que ele.

Que melancólico fim de dia tão alegre! A este tempo uma sombra escura passou por eles e estacou.

Ermelinda! - disse logo a voz esganiçada e colérica, que saiu daquele vulto.

Ermelinda estremeceu ao ouvi-la.

Era a mulher do Zé P’reira, que voltava das suas devoções e ficara surpreendida com o espectáculo que vira. A assustadiça castidade daquela matrona toda se alvoroçou com a tocante despedida das duas crianças.

Ermelinda aproximou-se, a tremer, da madrinha, que rudemente a agarrou pelo braço e a levou consigo.

Ângelo esteve quase resolvido a ir tirar das mãos daquela harpia a inocente vítima; mas a chegada de Herodes estorvou-o.

A Sr.ª Catarina do Nascimento de S. João Baptista ia dizendo, ao levar consigo a afilhada:

- Que terão ainda de ver meus olhos, meu Divino Pai do Céu? Que mundo este de abominação, meu doce Jesus! Ó Virgem das Dores, isto é para se ver e não se crer! Uma criança, uma criança de dois dias, se pode dizer, e já assim com a alma perdida! Ó meu Jesus crucificado!.

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 289

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506