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- Vê lá, menino...
- Não, tia, não quero.
- Há pessoas que não podem dormir às escuras - dizia a criada. - Eu, graças a Deus, durmo bem de qualquer forma.
- Pois sim, mas nem todos são como você. Olha, ó Henriquinho, hás-de ver se queres o travesseiro mais alto, ou...
- Muito agradecido, tia Doroteia, tudo deve estar bom - disse Henrique, procurando fugir às muitas reflexões, perguntas e conselhos, com que as duas o iam perseguindo até o quarto.
- Olha, ó menino, tu bebes água de noite?
- Às vezes.
- Você pôs-lhe água no quarto, Maria?
- Pus, sim, minha senhora; pois então? Já minha mãezinha dizia que antes sem luz do que sem água.
- Bem, então está bem. Então muito boa noite, menino.
- Boa noite, tia.
- Ai, é verdade. Hás-de ver se queres mais roupa na cama.
- Não hei-de querer, não, tia.
- Olha que está muito frio. Você quantos cobertores lhe deitou, ó Maria?
- Cinco, senhora.
- Cinco! - exclamou Henrique, quase horrorizado. - Cinco cobertores!
- É pouco?
- Pouco?! - É de morrer esmagado debaixo deles.
- Ai, quer não! Olha que está muito frio.
- Bem, bem, eu cá me arranjarei.
- Então, muito boa noite.
- Muito boa noite, tia.
E Henrique ia a fechar a porta.
- Olha... - disse ainda a tia.
Henrique parou.
- Não sei o que é que me esquece...
- Não há-de ser nada, tia; boa noite.
- Não esquecerá?... Eu se?... Enfim... Boa noite. Ai, é verdade... Sempre é bom ficar com lumes-prontos.
- Ai, sim; lá isso sempre é bom.
- Vês? Não que bem me parecia.
- Já lá estão, senhora - disse a criada de longe.
- Melhor; então muito boa noite nos dê Nosso Senhor, menino.
- Muito boa noite, tia.
E Henrique conseguiu fechar a porta.
Estava finalmente só.