Ao mesmo tempo os gemidos, os soluços e os ais do auditório, e principalmente da parte feminina dele, iam crescendo em choro manifesto, em gritos e alaridos. Cedo era já um angustioso clamor em toda a igreja. Madalena, que se sentia, ela própria, um pouco impressionada por este espectáculo de desolação, voltou os olhos para Cristina. Viu-a trémula, pálida, com as faces banhadas de lágrimas, tendo no gesto todos os sinais de um intenso pavor.
Assustada com o estado da prima, a Morgadinha fez notá-lo a Henrique, e tacitamente lhe comunicou as apreensões que sentia.
Henrique compreendeu a necessidade de dissipar a funesta influência que se estava exercendo no ânimo tímido de Cristina.
Sentou-se por isso junto das duas raparigas e principiou a distraí- las com comentários satíricos às palavras do sermão e à figura do orador, que ambas ofereciam farto alimento para eles.
Daí a pouco Madalena instava já com Henrique para que se calasse.
Previa o perigo que poderiam correr, persistindo naqueles comentários impróprios do lugar.
Efectivamente não tinham passado desapercebidos do padre os comentários de Henrique, nem os sorrisos mal disfarçados de Madalena; e a raiva despertada pela descoberta cada vez inflamava mais o orador, exacerbando-lhe a virulência da frase.
Já não podia tirar os olhos daquele grupo, e por vezes a cólera, estrangulando-lhe quase a laringe, interrompera-lhe o discurso.
Alguns ouvintes, seguindo a direcção daqueles olhares faiscantes, haviam atingido já a causa deles.
Daí algumas murmurações que principiaram a sussurrar pela igreja.
No grupo das beatas, em que estava Ermelinda, foram elas mais acerbas do que nenhumas. A Sr.ª Catarina e as suas companheiras fartaram-se de anatematizar a