Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 20: XX

Página 317
aqui, esta desgraçada rapariga, sem cor, sem risos, sem alegria! Não é isto um crime, meu Deus? Não se vos pode amar e servir, Senhor, senão com lágrimas, com penitência e com tristezas? Não! Mentem eles! Mente esse missionário! Mente essa mulher! Mentes tu, filha! E maldito seja quem traz assim o desespero ao coração de um pai!

E o Cancela levantou-se exasperado, sacudindo rudemente de si a filha, cada vez mais gelada de terror e aflição. Deu alguns passos no corredor, e voltou ao quarto onde a encontrara. Ela seguia-o de mãos postas, chorando, pedindo-lhe que se não afligisse assim.

Mas o Cancela era dominado pela impetuosidade do seu génio.

Nem a ouvia. De repente parou, fitando os olhos no registo do Coração de Maria, que ali fora introduzido por a mulher do Zé P’reira. Estava adornado com jarras de flores e velas de cera; era esta a imagem a que Ermelinda fazia oração, quase extática, quando o pai entrou.

- Coração de Maria! - disse o Cancela, quase desvairado, conservando a vista fixa na imagem, e como falando para si. - Coração de mãe, e de mãe extremosa, que foi esta, e bem lanceada de dores. Soube o que é querer a um filho, o que é vê-lo padecer... o que é perdê-lo... E será ela a que deseja as lágrimas, as tristezas e a morte desta criança?... as desventuras de um pai?... Ela! Não! E, se tu o queres - continuou alucinado, voltando-se para a imagem - se não podes ser adorada senão assim, é porque és falsa, falsa como a mão que aí te pintou, falsa como as bocas que te pregam os milagres. Vai-te! E, no acesso de raiva, que cada vez mais crescia nele, fez voar o caixilho, as jarras e os castiçais pelo ar, e tudo veio fazer-se em pedaços no pavimento.

Ermelinda soltou um grito dilacerante e agudíssimo ao ver aquilo.

<< Página Anterior

pág. 317 (Capítulo 20)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 317

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506