Ergueu-se, pálido e trémulo, apoiou-se no ombro de Augusto, murmurando:
- Também o castanheiro! Já era árvore quando eu nasci! Como eles se encarniçam contra ele! Mas não te parece, Augusto, que não sofre muito o castanheiro?... Sabes? É que ele já não agradeceria a vida, porque tinha de viver assim desamparado dos seus outros companheiros, que vê caídos no chão... Tarda-lhe talvez o deitar-se ao lado deles... É como eu.
O castanheiro começou a oscilar.
- Repara - disse o ervanário, cada vez em tom mais baixo, e apertando o braço de Augusto. - Ele já treme! Não vês?... Lá lhe deitam a corda... Vai cair!... Parece-me que estou a sentir aquele estalar de fibras... E a árvore caiu com fragor no chão, que por tanto tempo cobrira de sombras.
Estava ultimada a obra.
O ervanário encostou a cabeça ao ombro de Augusto e rompeu em soluços.
- Então, Tio Vicente, tenha ânimo - dizia-lhe Augusto, igualmente comovido.
- Se tu soubesses, Augusto, o que eu estou sentindo! Olhar para acolá e não ver em pé uma só das árvores que eu conheci em pequeno! Parece-me um sonho isto, um sonho de aflição! Sinto-me tão só no Mundo! Ai! se a morte me ferisse agora!
A dor, a saudade e o desalento davam uma unção de poesia elegíaca à figura, ao gesto e às palavras do velho, que desvanecia tudo o que nele pudesse haver, nas situações ordinárias da vida, capaz de desafiar um sorriso nos lábios de quem o observasse friamente.
Conceda-se uma lágrima a estas obscuras vítimas dos progressos materiais, lágrima que não importa uma ironia à civilização.
Exalte-se, embora, a rápida carreira da locomotiva, que atravessa, como meteoro, as povoações e os ermos, mas não seja isso motivo para condenar a compaixão pela violeta dos campos, que as rodas deixaram esmagada à beira do carril.