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Capítulo 21: XXI

Página 329
Ergueu-se, pálido e trémulo, apoiou-se no ombro de Augusto, murmurando:

- Também o castanheiro! Já era árvore quando eu nasci! Como eles se encarniçam contra ele! Mas não te parece, Augusto, que não sofre muito o castanheiro?... Sabes? É que ele já não agradeceria a vida, porque tinha de viver assim desamparado dos seus outros companheiros, que vê caídos no chão... Tarda-lhe talvez o deitar-se ao lado deles... É como eu.

O castanheiro começou a oscilar.

- Repara - disse o ervanário, cada vez em tom mais baixo, e apertando o braço de Augusto. - Ele já treme! Não vês?... Lá lhe deitam a corda... Vai cair!... Parece-me que estou a sentir aquele estalar de fibras... E a árvore caiu com fragor no chão, que por tanto tempo cobrira de sombras.

Estava ultimada a obra.

O ervanário encostou a cabeça ao ombro de Augusto e rompeu em soluços.

- Então, Tio Vicente, tenha ânimo - dizia-lhe Augusto, igualmente comovido.

- Se tu soubesses, Augusto, o que eu estou sentindo! Olhar para acolá e não ver em pé uma só das árvores que eu conheci em pequeno! Parece-me um sonho isto, um sonho de aflição! Sinto-me tão só no Mundo! Ai! se a morte me ferisse agora!

A dor, a saudade e o desalento davam uma unção de poesia elegíaca à figura, ao gesto e às palavras do velho, que desvanecia tudo o que nele pudesse haver, nas situações ordinárias da vida, capaz de desafiar um sorriso nos lábios de quem o observasse friamente.

Conceda-se uma lágrima a estas obscuras vítimas dos progressos materiais, lágrima que não importa uma ironia à civilização.

Exalte-se, embora, a rápida carreira da locomotiva, que atravessa, como meteoro, as povoações e os ermos, mas não seja isso motivo para condenar a compaixão pela violeta dos campos, que as rodas deixaram esmagada à beira do carril.

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pág. 329 (Capítulo 21)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 329

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506