O perdão evangélico é muito bonito, mas não é para homens. Não lhe parece? Eu, por mim, não gosto de génios de lama. Falemos como amigos. Nós ambos somos vítimas de um mesmo homem. O Sr. Augusto foi enganado e escarnecido por o conselheiro, que se apregoava seu protector. Aí temos a protecção que ele lhe deu. Eu também lhe devo finezas.
- V. S.ª? - perguntou Augusto, que não podia saber o que lhe queria no fim de tudo o Brasileiro.
- Eu, sim, senhor. Eu lhe digo como isto foi.
E o Brasileiro, puxando a cadeira, aproximou-se mais de Augusto, e deu princípio à exposição dos agravos:
- O conselheiro, que joga em política com pau de dois bicos, andou-me a causticar, para que eu aceitasse um título qualquer... Queria fazer-me visconde por força. Coisas de que eu me estou rindo... Mas... enfim, para me livrar daquele importuno, disse-lhe que... fizesse lá o que quisesse... Pois, senhores, não teve o petulante o atrevimento de escrever ao ministro, com quem, apesar de se dizer da oposição, mantém aturada correspondência, não teve a audácia de lhe dizer que eu andava sonhando com viscondados, e que a minha mania era atendível, pois prometia ser uma fonte de melhoramentos locais muito baratos ao Estado, visto que com tão pouco me contentava, e outras coisas neste gosto? O petulante!...
Augusto, apesar dos pensamentos pouco alegres que o preocupavam, lutava para se conservar sério perante aquela indignação do Sr. Seabra.
- Mas tem a certeza disso? - perguntou ele. - Às vezes são calúnias...
- Eu vi a carta do ministro em resposta a esta; do ministro não, mas do secretário, que é o mesmo... Um acaso fez com que ela me chegasse à mão... O ministro fazia-me o favor de me conceder o título; mas era de parecer que, por cautela, se tirasse, antes, de mim tudo quanto eu pudesse dar, porque.