.. Aí está o pago que se tira de bem fazer! Aí está! Veremos a cara com que ele me responde. Ora deixa...
- Eu retiro-me - disse Henrique, pegando no chapéu para sair.
- Fique, primo, fique... Até é bom que ouça...
- Perdão, minha senhora. É melhor que eu não fique. Há razões para isso... Tudo deve passar-se entre V. Ex.ª e ele, e se me é lícito um conselho, bom será que não seja demasiado violenta.
Apesar dos pedidos de D. Vitória, Henrique retirou-se.
Não ia satisfeito consigo o hóspede de Alvapenha. E porquê? Não tinha feito o seu dever? Por acaso não era flagrante o delito de Augusto e irrecusáveis as provas que o acaso contra ele ministrara? Mas em nós todos se deve ter já passado um fenómeno moral, comparável ao que se estava dando com Henrique. Ocasiões há em que, apesar de todos os argumentos da razão, apesar da conspiração de todas as provas a justificar-nos, persiste em nós uma voz instintiva a avisar-nos de que cometemos um mal, formulando uma acusação.
Isto somente não sucede a quem tenha adormecidos os mais generosos escrúpulos da consciência; e este caso não se dava com Henrique.
D. Vitória ficou só na sala, meditando na maneira de confundir e castigar o criminoso. Passeava agitada, elaborando consigo o diálogo que se ia seguir, encarregando-se ela própria de responder por Augusto.
Não se passou muito tempo que Augusto não viesse procurar a pasta que lhe esquecera na sala.
- Que procura? - Disse D. Vitória, que, ao vê-lo, parou junto da mesa.
- Uma pasta que deixei aqui.
- Será esta? - Disse D. Vitória, mostrando-a.
- É essa mesma - respondeu Augusto, indo para buscá-la.
- Como vão na leitura do manuscrito os meus pequenos, Sr. Augusto? - perguntou D. Vitória, retendo a pasta.
- Muito bem, minha senhora.