A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 22: XXII Pág. 357 / 508

- Já entenderam esta carta? Augusto pegou na carta, que examinou superficialmente.

- É provável que já, minha senhora; ainda que não me lembro de haver escolhido esta entre as que V. Ex.ª me deu.

- Pois escolheu por certo, visto que a tinha na pasta; mas, como lhe pareceu difícil de mais para os pequenos, teve o cuidado de mandá-la imprimir para eles lerem melhor. Não posso consentir que entre nesses gastos por causa de meus filhos; por isso queira dizer a despesa que fez para se lhe mandar pagar.

D. Vitória tirava da raiva, que se apossara dela, uma ironia superior aos seus habituais expedientes de espírito.

Augusto ergueu para ela os olhos, admirado, porque não podia compreender aquelas singulares palavras.

- Diz V. Ex.ª que... Em vez de lhe responder logo, D. Vitória pegou no periódico que Henrique deixara sobre a mesa, e, mais exaltada já, acrescentou:

- Veja se saiu exacto. Compare. Talvez precise de fazer alguma emenda.

Augusto olhou para o periódico e para a carta, sem bem saber o que fazia nem o que queria dizer tudo aquilo.

- Mas, por amor de Deus, minha senhora - disse ele, já sobressaltado - que quer dizer tudo isto?

- Quer dizer, Sr. Augusto, que, quando para outra vez se lembrar de atraiçoar mais alguém que o tenha favorecido, seja mais cuidadoso em esconder as provas da sua vileza.

- Minha senhora! - exclamou Augusto, fazendo-se pálido.

- Fez mal em não nos ter prevenido antes do que tinha descoberto; nós ainda tínhamos bastante dinheiro para cobrir o lanço e ficarmos com a carta.

- Ó, meu Deus! Pois suspeita-se...

E Augusto, quase como louco, arrancou das mãos de D. Vitória a folha, e começava a lê-la; mas as nuvens que lhe passavam pelos olhos, a vertigem que lhe turbava a cabeça não o deixavam compreender o que lia.





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