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Capítulo 24: XXIV

Página 375
conselheiro, que privara cruelmente o pobre velho da sua propriedade, golpe fatal que dentro em pouco o levaria ao túmulo; e a propósito contava como o ervanário pedira de joelhos ao conselheiro para lhe poupar a casa, e como este se rira das lágrimas do velho, porque tinha interesse em que não fosse adoptado o outro plano, que lhe cortava uma grande porção dos próprios bens.

Ouvindo estas coisas, o Sr. Joãozinho, que tinha mais de grosseiro e bestial do que de perverso, dava punhadas sobre a mesa, despejava copos de quartilho e dizia pragas sacrilegamente eloquentes.

Outras vezes, era no tópico do cemitério que ardilosamente o espírito tentador do Brasileiro insistia. Fazia avivar a ideia ao morgado de que ele próprio tinha de ser ali enterrado, porque na freguesia de Pinchões iam também ser proibidos os enterros na igreja; o que este negava, berrando, e todos afirmavam o mesmo que o Brasileiro dizia; o que deu lugar a novas punhadas, novas irrigações e a novas pragas do Sr. Joãozinho.

No dia que dissemos, multiplicara o morgado, mais que de costume, as suas libações de vinho; e com as faces injectadas, os olhos meio fechados, ouvia com irritação os comentários dos circunstantes e distribuía com profusão pragas e murros.

- Com os diabos! - berrava ele, acabando de despejar um copo de quartilho. - Se me chega a mostarda ao nariz... sou homem para ir à igreja e obrigá-los a enterrar lá a pequena.

- Isso não se faz assim com essa facilidade e arreganhos - disse velhacamente o Brasileiro, de propósito para o irritar ainda mais.

- Eu lhe diria se se fazia ou não, se se tratasse de coisa que me dissesse respeito!... Mas, lá com a filha do Cancela... não tenho eu nada... lá se avenham.

- A questão não é ser a filha do Cancela ou deixar de ser - tornava o Brasileiro -; a questão é do exemplo; enterrado o primeiro, enterram-se os outros.

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pág. 375 (Capítulo 24)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 375

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506