Era o bando dos influentes da taberna do Canada, de cujo propósito estávamos prevenidos; agora, porém, já engrossado, como a corrente a que no caminho se encorporam as águas dos algares.
Entre os primeiros vinha o Sr. Joãozinho das Perdizes e ao seu lado o seu factotum Cosme.
Estes enraivados correram para o lugar onde parara o enterro, bradando em confusão:
- Alto lá! Alto lá! Ninguém se enterra aqui!
- Esperem! Isso não vai assim!
- Não façam a festa sem nós!
- Fora com os do cemitério!
- Morram os pedreiros-livres!
- Para a igreja!
- Enterre-se na igreja!
- Olá, Sr. abade, espere por nós!
- Aqui vamos para abençoar a cova!
E num momento o cortejo fúnebre viu-se rodeado de figuras avinhadas, gesticulando e vociferando pouco tranquilizadoramente.
O cruciferário e os padres, à excepção do velho que dissemos, abandonaram o posto; as crianças, pousando no chão e abandonando o esquife de Ermelinda, correram a acercar-se de Madalena, amedrontadas e chorosas.
A Morgadinha conservou-se junto do túmulo da mãe, olhando com serenidade para os revoltosos, mas intimamente sobressaltada.
E no meio do grupo o cadáver de Ermelinda, com aquele sorriso nos lábios, como de anjo que já de longe estivesse vendo o desencadear das paixões humanas, e rindo de piedade.
O velho cura foi quem interrogou com voz firme e severa os amotinados.
- Que querem daqui? - perguntou ele, fitando-os. - Com que fins vieram perturbar, com desordens de taberna, as cerimónias religiosas?
- Não queremos que ninguém se enterre no cemitério - respondeu o Sr. Joãozinho.
- É verdade! É verdade! Ninguém se enterra aqui! - confirmaram diferentes vozes.
- Porquê? - continuou o padre. - Julgam que Deus não receberá as almas, cujos corpos não estejam lá dentro, a apodrecer sob os telhados da igreja e a envenenar o ar que se respira lá?
- Não queremos saber de contos.