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Capítulo 27: XXVII

Página 406
Era que Cristina, que em qualquer outra ocasião cedia sempre a Madalena a direcção dos trabalhos domésticos, aí dentro não resignava em ninguém essas funções. Tomava naturalmente as maneiras de dona de casa, e recebia a mãe, a prima e todas as outras como visitas de intimidade, mas, em todo o caso, visitas.

Não se imaginam os encantos que Henrique achava àquilo. A ele próprio parecia já que de facto o prendiam a Cristina laços mais íntimos, laços mais de família, do que às outras senhoras. Era assim que qualquer pedido que tinha a fazer o dirigia sem hesitar a ela, como o faria a uma irmã; enquanto que naturalmente custava- -lhe a incomodar outra qualquer pessoa, e não o fazia sem as desculpas e cumprimentos do estilo, que para ela não usava já.

Outra particularidade o enlevava tanto como esta. Era a maneira despótica por que o governava Cristina, fazendo-o cumprir à risca as dietas e as prescrições do facultativo, recusando-se obstinadamente a deixá-lo ler, e até ralhando-lhe às vezes com severidade quase maternal, aparências de dureza que ocultavam tesouros de sensibilidade e de afecto.

O pobre rapaz, que não conhecera família, que nunca vira do seu leito de doença, nas vezes que caíra nele, o vulto suave e consolador de uma mãe, de uma irmã ou de uma esposa sorrir-lhe ao despertar, interrogá-lo com essas entonações carinhosas, que nos provocam o cobrir de beijos a mão que nos estende a taça do mais amargo remédio; ele que não sabia ainda o que era sentir-se amparar a fronte, que escalda de febre, pelo apoio de uma débil mão de mulher, a que o amor dá forças extraordinárias, comovia-se até às lágrimas agora, e quase não pensava sem tristeza na convalescença, que havia de o privar daqueles cuidados afectuosos.

O olhar com que fitava Cristina todas as vezes que ela se lhe aproximava do leito era mais eloquente de reconhecimento do que todas as palavras que lhe dizia, do que todas quantas lhe poderia dizer.

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pág. 406 (Capítulo 27)

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 406

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506