A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 27: XXVII Pág. 413 / 508

Sabemos já que se gozava dali um panorama extenso e ameníssimo. A tarde parecia de Primavera. Henrique corria com prazer a vista pelos diferentes lugares da Quinta de Alvapenha, com as suas noras e medas, colmeias, eiras, cabanas e sebes. Era uma verdadeira quinta rural, ressentindo-se, porém, um pouco de ser a proprietária dela uma senhora velha, e com pouca actividade para tratar de lavouras.

Pouco a pouco deixava Henrique de ver a quinta como ela era.

Principiava a visão interior.

As árvores copavam-se de folhagem; messes aloiradas ondulavam nos campos; numerosos rebanhos cobriam os lameiros extensos; atulhavam-se de cereais os celeiros; alastrava-se de grão o chão das eiras; gemiam as noras e os lagares; soltavam-se às presas os diques, e uma verdadeira rede líquida envolvia em suas malhas a vegetação dos campos; alvejavam as camisas dos ceifadores e ecoavam nos montes e arvoredos as cantilenas aldeãs; e os mais característicos e poéticos episódios da vida agrícola desenrolavam- se aos sentidos, deleitosamente alucinados, do sobrinho de D. Doroteia. Era uma perfeita geórgica! E ele a dirigir todos os trabalhos, a regular o serviço, verdadeiro patriarca ao modo antigo; e ao seu lado, e em toda a parte, à sombra de uma árvore, à borda do tanque, debruçada no muro, por entre os silvados das sebes vivas, uma figura suave, casta, adorável... a figura de Cristina! Quem meses antes adivinharia que Henrique de Souselas, o homem elegante, o homem da moda, em quem estavam encarnadas todas as qualidades boas e más da sociedade que frequentava, havia de ter uma visão como esta? No quase êxtase em que a imaginação o lançara, permanecia ainda, quando soube que o procuravam de mando das senhoras do Mosteiro.

Apressou-se logo a receber a visita.





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