Era o velho Torcato que vinha saber dele, de mando de D. Vitória e das meninas.
O pobre homem era um dos que ficara com afeição a Henrique depois que este estivera no Mosteiro.
Henrique ouvia-o com uma paciência, que ele já em poucos encontrava, contar as longas histórias dos seus tempos passados, e isso era o bastante para o velho lhe querer bem.
- Diga às senhoras que eu mesmo irei ralhar com elas, pelo incómodo que estão tendo comigo. E você também, Torcato, na sua idade, estes passeios...
- Ai, não tem dúvida... Isto faz bem... É exercício afinal... Pois é verdade. Eu dantes corria a aldeia toda num minuto... agora... Olhe que eu já tenho os meus anos! Veja lá, se no tempo dos Franceses eu era já homem feito... Inda me lembra...
Seguiu-se um episódio da época, e depois, sem transição sensível:
- Mas lá enquanto às senhoras... Isso sempre devo dizer que têm tomado um cuidado!... Todas!... Até a Cristininha!...
- Sim?! Também essa?
- Ora se também! ... Pois a Sr.ª D. Vitória?
- Mas... mas... Cristina... a Sr.ª D. Cristina, então...
- Isso é um coração de pomba. Inda há pouco, ao sair, já vinha no pátio, e ela veio ter comigo a correr, e disse-me: «Olhe, ó Torcato, há-de reparar-lhe para a cara e ver se tem ar triste».
- Ela disse-lhe isso?
- É verdade. Eu, eu lá lhe vou dizer que o encontrei alegre como...
- Não, não; não lhe diga isso, homem - atalhou Henrique.
- Então porquê?
- Porque... porque... porque não é verdade... Então eu estou assim tão alegre como isso?
- Não digo que esteja, mas para a sossegar...
- Diga que me achou com saúde, mas triste. E não lhe disse ela mais nada?
- A Sr.ª D. Vitória...
- Falo de Cristina.
- Nada... Ai... Agora me lembra... Mas isso é segredo.