- Diga, diga.
- Não é nada; é uma promessa que...
- Uma promessa? Que promessa?
- Sim, olhe, eu digo-lhe, mas guarde segredo! Quando o senhor esteve muito mal, que nem o cirurgião dava nada por si, a Cristinita prometeu rezar na capela dos Canaviais as estações da meia-noite...
- As estações da meia-noite?
- Sim; as estações rezadas à meia-noite à Senhora que está na capela da casa dos Canaviais. É tão milagrosa que, dizem, nunca recusou favor que se lhe pedisse assim. Contava meu pai... E vinha um caso comprovativo da tradição popular.
- Sim, lembra-me que já me falaram nisso - disse Henrique, pensativo.
- É verdade. O pior é que é este seu criado quem tem de a acompanhar até à quinta, depois de amanhã à meia-noite...
- Então depois de amanhã à meia-noite?...
- Sim, mas não diga nada, que isto é segredo da pequena.
- Esteja descansado.
E, depois de mais algumas histórias contadas por Torcato, e a que Henrique não ligou atenção, aquele retirou-se.
Ao ficar só, Henrique caiu em nova e profunda abstracção. Elaborava-se-lhe na ideia um projecto. O de ir aos Canaviais para presenciar aquele acto de fervorosa devoção de Cristina, que suplicara por ele enfermo, com o ardor da mais pura crença, com a efusão do mais generoso afecto.
Neste intento tratou de se informar a respeito dos caminhos que conduziam à quinta, que ele ainda não visitara, e sobre como penetrar até à capela da casa, onde devia ser cumprida a promessa.
D. Doroteia, D. Vitória e Madalena deram-lhe os esclarecimentos precisos sem que suspeitassem das intenções com que ele lhos pedia.