A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 434 / 508

E, passando-lhe a mão por baixo da barba, para a obrigar a fitá-lo, continuou:

- Então assim se trama uma conspiração às caladas? Surpreender a gente com uma notícia de tal ordem! Ainda há pouco demitido um ministério de bonecas, e já um golpe de estado desta natureza! Sim, senhora, é energia. Nunca o esperei! Ora dê cá um beijo, enquanto não tenho quem me peça explicações por os que lhe roubar.

E o conselheiro, com perfeita galanteria e afecto, beijou-a nas faces, tingidas pelo pejo e pela alegria.

Depois, voltando-se para Henrique, acrescentou, sorrindo:

- São os penúltimos.

- Os penúltimos? - disse D. Vitória, rindo. - Ora essa! Então para quando ficam os últimos?

- Para quando a vir com uma grinalda de noiva.

- O que eu nunca esperei é que fosse a nossa Criste que desse o exemplo à prima. Não tens vergonha, Lena? - disse D. Doroteia para a Morgadinha, em quem esta reflexão fez nascer um gesto de contrariedade, que trouxe aos lábios de Ângelo o primeiro sorriso daquela manhã.

O conselheiro e Henrique sorriam também.

- Eu prometo casar-lhe a prima Madalena, dentro em pouco, tia - disse Henrique com intenção.

- Não prometa. Esses negócios deixe-os ao meu cuidado. Bem sabe que sou teimosa e tenho a ingenuidade de acreditar que ainda há coisas no Mundo que se devem decidir pelo coração somente.

- E Deus me livre de o não consultar. Seria abjurar os meus próprios actos.

- O somente é que veio de mais, filha - disse o conselheiro. - Atenda-se ao coração, embora. Mas só ao coração? Isso era bom se vivêssemos em um mundo de corações.

A chegada de novos personagens desviou a direcção da conversa e modificou a cena.

Eram influentes políticos, que obrigaram as senhoras a retirarem- se. Henrique ficou, a pedido do conselheiro.





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