A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 435 / 508

O mestre Bento Pertunhas entrava no número dos recém-chegados. O papel que ali desempenhava o latinista era de suspeitosa natureza.

Vinha também a alma política do partido do conselheiro, o Tapadas, que nestas épocas não comia, não dormia, não respirava, por assim dizer, senão eleições, e desenvolvia uma miraculosa actividade, correndo a todos os pontos perigosos, conquistando votos, um a um, e lidando por desenredar as meadas políticas dos adversários e enredar as suas.

- Então que novas temos da campanha, meus senhores? - perguntou o conselheiro, puxando cadeiras para os seus constituintes, e afectando um tom de confiança que não sentia.

- Más, Sr. Conselheiro, - respondeu o Tapadas - muito más.

Vejo isto muito feio.

- Ora a coisa ainda não há-de ser tão má como diz.

- Nada, nada; não me agrada. V. Ex.ª descuidou-se. Tenha paciência, mas eu bem lho disse. Eu sei como estas coisas são. É preciso não as desacompanhar. V. Ex.ª devia vir há mais tempo.

O Pertunhas acudiu:

- Deixe lá, Sr. Tapadas, o Sr. Conselheiro tem amigos decididos, e os serviços que fez à terra...

- Ora com o que vossemecê vem! - replicou o Tapadas, com modo azedo. - Então não sabe como é esta gente? Então não os ouve aí berrar já contra as estradas, quando até agora berravam por as não terem?

- Meia dúzia de garotos - tornou o Pertunhas.

- Não, senhor, não é assim; não estejamos a enganar-nos. Os que não dizem mal das estradas sabem muito bem dizer que ao ministério as devem, e estamos na mesma. A coisa vai mal.

- Então decididamente o Seabra?... - perguntou o conselheiro.

- Esse é o chefe de todos eles - disse um merceeiro. - À porta da minha loja o ouvi eu estar a dizer ao cunhado do administrador que o traçado da estrada era o pior que podia ser, que se gastava ali um dinheiro louco, sem utilidade para o povo.





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