Vinha também a alma política do partido do conselheiro, o Tapadas, que nestas épocas não comia, não dormia, não respirava, por assim dizer, senão eleições, e desenvolvia uma miraculosa actividade, correndo a todos os pontos perigosos, conquistando votos, um a um, e lidando por desenredar as meadas políticas dos adversários e enredar as suas.
- Então que novas temos da campanha, meus senhores? - perguntou o conselheiro, puxando cadeiras para os seus constituintes, e afectando um tom de confiança que não sentia.
- Más, Sr. Conselheiro, - respondeu o Tapadas - muito más.
Vejo isto muito feio.
- Ora a coisa ainda não há-de ser tão má como diz.
- Nada, nada; não me agrada. V. Ex.ª descuidou-se. Tenha paciência, mas eu bem lho disse. Eu sei como estas coisas são. É preciso não as desacompanhar. V. Ex.ª devia vir há mais tempo.
O Pertunhas acudiu:
- Deixe lá, Sr. Tapadas, o Sr. Conselheiro tem amigos decididos, e os serviços que fez à terra...
- Ora com o que vossemecê vem! - replicou o Tapadas, com modo azedo. - Então não sabe como é esta gente? Então não os ouve aí berrar já contra as estradas, quando até agora berravam por as não terem?
- Meia dúzia de garotos - tornou o Pertunhas.
- Não, senhor, não é assim; não estejamos a enganar-nos. Os que não dizem mal das estradas sabem muito bem dizer que ao ministério as devem, e estamos na mesma. A coisa vai mal.
- Então decididamente o Seabra?... - perguntou o conselheiro.
- Esse é o chefe de todos eles - disse um merceeiro. - À porta da minha loja o ouvi eu estar a dizer ao cunhado do administrador que o traçado da estrada era o pior que podia ser, que se gastava ali um dinheiro louco, sem utilidade para o povo.