Henrique?
- É apenas uma restituição que peço, Sr. Conselheiro, porque não me posso resignar a viver sem coração.
- Faz madrigal? Está então apaixonado deveras, já vejo - disse o conselheiro. - Pela minha parte folgo de o ver assim associado à minha família, por tão bom caminho. Mas onde está a taumaturga que fez o milagre de converter este celibatário emérito, que eu conheci em Lisboa a rir-se do casamento?
- Por piedade, não me recorde esses pecados diante da prima Madalena, que é tão rigorosa nos castigos!
- Diga antes que sou tão excessiva nas recompensas.
- Mas o mano tem razão - disse D. Vitória. - Onde está a Criste? Admira-me não a ver aqui!
- Admirar, não me admiro eu - tornou o conselheiro. - É provável que soubesse do que se tratava, e eclipsou-se discretamente.
Porque isto foi decerto discutido por as partes interessadas, antes de subir ao nosso tribunal.
Henrique e Madalena sorriam.
- Ora se foi! E parece-me que tu, Lena, fizeste desta vez de S. Gonçalo. Deus queira que te não queimes ainda no fogo ao ateares destes fachos.
- Eu vou buscar a Criste - disse a Morgadinha, rindo das palavras do pai, e saiu da sala como para evitar que a conversa seguisse a direcção que ele lhe deu.
O conselheiro voltou neste intervalo a consultar papéis e cartas, enquanto D. Vitória falava com Henrique, e D. Doroteia tentava distrair Ângelo, contando-lhe várias histórias de crianças, que ele mal escutava, e que ela tinha a candura de julgar alimento acomodado à inteligência dele.
Passados momentos, voltava Madalena, trazendo Cristina consigo, a qual já vinha com o rubor nas faces e com os olhos no chão.
- Aqui está a acusada - disse a Morgadinha ao entrar.
O conselheiro tornou a guardar os papéis e disse jovialmente para a sobrinha:
- Ora venha cá, venha cá, que temos muito que falar.