A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 28: XXVIII Pág. 437 / 508

O que era bom era ver até se se falava ao Herodes, porque talvez ele possa agora ainda arranjar alguns votos - acrescentou o Tapadas, disposto a servir-se da dor de um pai como arma eleitoral.

E continuou-se fervorosamente na edificante obra de combinar tramas políticos. Discutiram-se os diversos processos de angariar as potências eleitorais do círculo. Estudaram-se as ambições de cada uma; ponderaram-se as exigências feitas por uns, os desejos adivinhados em outros; para este o emprego de um afilhado, àquele o bom êxito de uma demanda, a outro o pagamento de uma dívida, ou o resgate de uma hipoteca e a alguns até nua e descaradamente o dinheiro. Nesta empresa de subornar consciências e sofismar a urna entreteve-se o conciliábulo, sem que nenhum dos membros dele sentisse remorsos por o que estava fazendo ali.

Entre os discutidos foi o Sr. Joãozinho das Perdizes um dos principais.

- Então sempre é certo que me roeu a corda esse basbaque? - perguntou, ao falar-se nele, o conselheiro.

- É dos mais assanhados - responderam-lhe.

- Mas quem diabo lhe virou a cabeça? Um velhaco a quem tantas vezes tenho tirado de apuros!

- Tanto lhe atordoaram os ouvidos com a história dos cemitérios... - disse o Pertunhas.

- Deixe lá! Ali andou também um presente que lhe fez o Brasileiro.

O morgado está muitas vezes com a corda na garganta - explicou malignamente o Tapadas, cujo cepticismo, robustecido no uso das demandas e da política, não achava explicações tão plausíveis como a corrupção.

- E depois, o homem tomou as dores pelo Vicente ervanário - insinuou um tendeiro.

- Ora adeus! - disse o Tapadas. - Bem me fio eu nessas compaixões. Quem os não conhecer...

- E que tem o tolo com os negócios do ervanário? - insistiu o conselheiro, de mau humor.





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