- Então? Deu-lhe para ali.
- Qual histórias! Para mim é que vem com isso? - teimava o céptico Tapadas.
- Também uma coisa que buliu com ele foi aquilo no outro dia na taberna com este senhor - disse o Pertunhas, designando Henrique.
- Sinto, Sr. Conselheiro - disse ele - se de alguma maneira concorri...
- De modo algum. Aquele selvagem vai para onde o empurram.
À última hora é capaz de mudar de tenção. E por causa dele é que ficou despachado um pateta em vez de Augusto.
Depois de dizer estas palavras, o conselheiro acrescentou com despeito:
- Mas até certo ponto, foi bom para me desenganar a respeito do carácter de certos homens. Há vinganças tão torpes e mesquinhas, que nenhum agravo as justifica.
Henrique procurou defender Augusto; achou, porém, o conselheiro obstinado na sua crença.
Henrique aludiu ao brasileiro Seabra como o mais plausível promotor da intriga.
- Embora o fosse - respondeu o conselheiro -; mas que tem isso? O Seabra não veio a minha casa; não suspeitava da existência de tal carta. Alguém houve que a leu primeiro e que lha foi entregar depois, e já é ser muito indulgente supor que foram só cegueiras de vingança e não a sordidez da cobiça quem o moveu a essa infâmia.
Henrique viu que perdia o tempo em defender Augusto; contudo jurou pela inocência dele.
O conselheiro ia a responder-lhe, quando o distraiu uma altercação travada entre Pertunhas e o Tapadas.
Aquele estava sendo fertilíssimo em alvitres para vencer resistências eleitorais. O Tapadas, que desconfiou dele, disse-lhe subitamente:
- Olá, Sr. Pertunhas, é melhor parolar menos e fazer coisa que se veja; ou deixa só as obras para o seu amigo Seabra? Daqui protestos enérgicos do Pertunhas, e a altercação virulenta, que o conselheiro teve de apaziguar.