A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 3: III Pág. 44 / 508

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- É a Morgadinha, é a Morgadinha - disseram a um tempo muitas vozes.

- Agradecido pela novidade; era cá muito precisa a explicação - disse o Pertunhas; e, passando a carta para uma mulher, que era a encarregada de fazer a distribuição a quem a podia gratificar, acrescentou:

- Leve-lha lá a casa.

E prosseguiu:

- Augusto Gabriel...

- É o mestre-escola...

- Ora fazem o favor de estar calados! Esta... como ele vem por aqui... pode ficar... ainda que... será melhor levar-lha a casa, leve, leve também...

- João Cancela.

- É o João Herodes.

- Esse foi a Lisboa.

- Então, quando vier, que apareça.

- O tio Zé P’reira ficou de receber as cartas. É compadre dele.

- Eu não quero saber de compadrices. O tio Zé P’reira que se ocupe com o seu zabumba e deixe lá os outros.

A leitura, mais ou menos acompanhada destes diálogos, prosseguiu, redobrando de momento para momento a ansiedade dos que iam ficando. Um fundo suspiro, uníssono, melancólico, expressivo de desalento, seguiu-se à leitura do último nome e às poucas palavras com que o funcionário fechou a tarefa.

- E acabou-se.

Os que ainda estavam na loja saíram cabisbaixos, morosos e com má vontade, como se ainda tivessem esperança de comover a inexorável sorte.

Henrique, ficando só com Bento Pertunhas, teve de lhe escutar ainda, por muito tempo, a narração dos seus passados triunfos artísticos, das suas amarguras presentes no magistério, e das suas esperanças em melhoramentos futuros. Entre as ambições mais inquietas do mestre, a de obter o lugar de recebedor da comarca, próximo a vagar por a morte iminente do respectivo empregado, figurava em primeira linha.

Depois de várias tentativas, Henrique conseguiu deixar o seu interlocutor, e continuou





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