- É a Morgadinha, é a Morgadinha - disseram a um tempo muitas vozes.
- Agradecido pela novidade; era cá muito precisa a explicação - disse o Pertunhas; e, passando a carta para uma mulher, que era a encarregada de fazer a distribuição a quem a podia gratificar, acrescentou:
- Leve-lha lá a casa.
E prosseguiu:
- Augusto Gabriel...
- É o mestre-escola...
- Ora fazem o favor de estar calados! Esta... como ele vem por aqui... pode ficar... ainda que... será melhor levar-lha a casa, leve, leve também...
- João Cancela.
- É o João Herodes.
- Esse foi a Lisboa.
- Então, quando vier, que apareça.
- O tio Zé P’reira ficou de receber as cartas. É compadre dele.
- Eu não quero saber de compadrices. O tio Zé P’reira que se ocupe com o seu zabumba e deixe lá os outros.
A leitura, mais ou menos acompanhada destes diálogos, prosseguiu, redobrando de momento para momento a ansiedade dos que iam ficando. Um fundo suspiro, uníssono, melancólico, expressivo de desalento, seguiu-se à leitura do último nome e às poucas palavras com que o funcionário fechou a tarefa.
- E acabou-se.
Os que ainda estavam na loja saíram cabisbaixos, morosos e com má vontade, como se ainda tivessem esperança de comover a inexorável sorte.
Henrique, ficando só com Bento Pertunhas, teve de lhe escutar ainda, por muito tempo, a narração dos seus passados triunfos artísticos, das suas amarguras presentes no magistério, e das suas esperanças em melhoramentos futuros. Entre as ambições mais inquietas do mestre, a de obter o lugar de recebedor da comarca, próximo a vagar por a morte iminente do respectivo empregado, figurava em primeira linha.
Depois de várias tentativas, Henrique conseguiu deixar o seu interlocutor, e continuou