Apesar de todas as prevenções, o que é certo é que a nova, quando viesse, feri-lo-ia como imprevista.
Sempre assim sucede.
No meio de um destes passeios agitados que dava em todas as direcções por o meio da sala, ouviu-se a detonação de algumas dúzias de foguetes.
O conselheiro parou e fez-se excessivamente pálido.
Os corações de Madalena, de Cristina, de D. Vitória e de Ângelo bateram também precipitados.
A causa estava, enfim, decidida.
A girândola apregoava uma vitória, mas não proclamava o nome do vencedor; porém, que dúvida podia haver a respeito dele? O conselheiro sentiu fraquejarem-lhe as pernas; sentou-se, e, com um sorriso amargo, disse para a família:
- Estou desautorado pelos meus antigos mandatários!
- Quem sabe, mano? Às vezes... Isto principiava a dizer D. Vitória, para dizer alguma coisa, quando Ângelo, que ficava mais próximo da janela, exclamou:
- Aí vem um homem a correr a toda a pressa!
- A correr?! - disse o conselheiro, em quem esta simples notícia infundira novo alento a todas as esperanças e dissipara a sombra das pesadas apreensões; e caminhou pressuroso para a janela.
As senhoras seguiram-no ali.
O homem, que Ângelo vira de longe, divisava-se ainda por entre os silvados de um atalho, que vinha dar à avenida da entrada do Mosteiro.
- Parece o Domingos, o criado do Tapadas... - disse o conselheiro, afirmando-se.
- Mas que pressa ele traz! - notou D. Vitória.
- Já nos viu - disse Ângelo.
- Lá acenou com o chapéu - exclamaram todos.
- Que quer ele dizer com aqueles sinais? - tornou o conselheiro, nervoso.
- Querem ver que é o que eu digo?! Olhe que venceu, mano.
- Qual! É impossível. Pois eu não sei como a votação correu? É boa! - disse o conselheiro com certo tom irritado, como de quem não quer que lhe descubram uma esperança.