A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 3: III Pág. 46 / 508

Mas as suas atenções voltaram-se com especialidade para a leitora.

Era uma mulher muito nova ainda. Uma graciosa figura de mulher, suave, elegante, distinta; um desses tipos que insensivelmente desenha uma mão de artista, quando movida ao grado da livre fantasia; a cor, essa cor inimitável, onde nunca dominam as rosas, mas que não é bem o desmaiado das pálidas, encarnação surpreendente, a que ainda não ouvi dar nome apropriado.

Os cabelos em fartas tranças, em ondas naturais, não de todo pretos, porém mais distintos ainda dos louros; a estatura esbelta, sem ser alta; o corpo flexível, sem ser lânguido; um vulto de fada, enfim, com a majestade, com a graça que deviam ter estas criações da poesia popular, se fosse certo tomarem a forma de virgens, para matar de amores.

Não se concebe atenção tão distraída, que esta mulher não fixasse; olhos, que se não voltassem para segui-la, depois de a ver passar; coração, que não se perturbasse na sua presença.

Trajava um singelo vestido de xadrez branco e preto, adornado no colo e punhos apenas por colarinhos lisos. Descaía-lhe natural e elegantemente dos ombros um xaile de casimira escura, sem lhe ocultar as belezas da airosa conformação; o chapéu de palha, de largas abas, cobrindo-lhe a cabeça, espelhava pelo rosto as meias- -tintas, tão favoráveis às belezas delicadas.

Henrique compreendeu logo a significação da cena, a que, tão inesperadamente, viera assistir. Aquela mulher parara ali, para ler a essa gente, pobre e ignorante, as cartas que haviam recebido do correio.

Também era caridade a acção, muito mais cumprida com o bom modo e com o carinho com que ela o fazia.

Henrique aplicou a atenção.

- ... «E por isso, minha mãe» - lia ela - «se Deus me ajudar, espero dentro em pouco ir a essa terra e darei remédio a tudo.





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