..
- Mas é impossível! Cem votos!... Aí há engano. Não pode ser!
- Cento e cinco!
- Estás bem certo do que te disse teu amo?
- Ora se estou! E lá vi a cara do Brasileiro. Metia medo.
O conselheiro perdia-se em conjecturas. Agora parecia-lhe irrealizável aquilo que lhe anunciavam.
Não pôde mais tempo conter-se. Sobressaltado, ansioso, preparou- se para ir por seus próprios olhos averiguar o facto.
Mas, antes que o fizesse, uma onda popular, trazendo à frente a bandeira nacional e a filarmónica da terra, invadia o pátio e atordoava os ares com vivas, hinos e foguetes. À frente da música estava, radiante, mestre Pertunhas, embocando a trompa com mais arreganho que nunca! O conselheiro chegou à janela, e então é que as aclamações foram estrondosas.
A desafinação da banda chegou a roçar pelo sublime.
O conselheiro agradeceu ao povo aquela manifestação.
Passados momentos, entravam na sala Henrique, o Tapadas, e outros chefes eleitorais, e com eles o Pertunhas, sobraçando a trompa.
- Que quer dizer isto? - perguntou o conselheiro, abraçando-os.
- Cento e trinta e cinco votos a maior, Sr. Conselheiro, nem mais nem menos - respondeu o Tapadas, rindo às gargalhadas.
- Cento e trinta e cinco - repetiu o Pertunhas.
- Mas donde vieram?
- Ora essa é boa! De Pinchões.
- De Pinchões - repetiu o Pertunhas.
- Como?... Pois o Morgado?...
- Votou connosco como um homem. Ora pudera!
- É verdade... votou... connosco - dizia mestre Pertunhas.
- Mas não se viu ainda há pouco...
- Que estavam com metralha inimiga? - concluiu o Tapadas.
- Que tem lá isso? Mas vão lá à igreja e verão as buchas que estão pelo chão. É um destroço! Parece a loja de um farrapeiro.
- Mas explica-me isso, Tapadas.