- Então não ouviu a rabecada que aquele santo do ervanário, que inda que não fosse senão por isso deve estar assentadinho no Céu, deu ao morgado? Pois aquilo lá ressentiu o homem. E, quando, depois de o Vicente expirar, ele voltou para a igreja, vinha a dizer: «Diabos me levem, que, se tivesse aqui listas à mão, havia de ensinar os tratantes que me meteram nesta dança». Vieram-me dizer isto, e eu que, para o que desse e viesse, sempre levava um sortimento de listas, cheguei-me por a calada ao morgado... Hem?... e meti-lhas assim à cara, hem!...
- Ora! Foi um momento! Enquanto a mesa se senta e abre os cadernos, sim, senhores, e se põe tudo em ordem, estava armada a freguesia de Pinchões à nossa moda. Agora se se queria rir, era ver o Brasileiro! Como ele encafuava para a urna as listas que eu tinha trazido no bolso, e com que fogo! E eu a vê-lo enterrar até às orelhas e a fazer-me carrancudo! No fim então é que foram elas, quando principiaram a aparecer as nossas listas às cargas cerradas. O homem enfiou! Cuidei que lhe dava alguma coisa no fim. Berrou, protestou... fez coisas do arco-da-velha. Agora chia contra o morgado, e, se o encontra, é capaz de o comer... Para coroar a festa, à girândola, que aqui o mestre Pertunhas tinha preparado para eles, pegámos-lhe nós o fogo, e estourou que foi um gosto.
E o Tapadas terminou com outra gargalhada.
O Pertunhas quis protestar contra a acusação, mas o Tapadas voltou-lhe as costas, dizendo:
- Ora adeus, meu amigo! O melhor é calar-se.
E ele seguiu o alvitre, limitando-se a dizer a meia voz para os que estavam próximos:
- Este Tapadas tem cada graça! Assim, pois, a vitória do conselheiro era devida ao ervanário.
Tinham-lhe falhado todos os seus cálculos políticos, transigira com exigências, nem sempre justas, o que de nada lhe servira, e salvara- o o elemento que desprezava.