Fez-se no cemitério, e por expressa determinação do falecido, em campa rasa, e não no túmulo da família do Mosteiro, como o conselheiro desejara.
Tudo se passou sem o menor sinal de oposição.
Não se explicam bem estas versatilidades da opinião pública.
Uma medida que hoje ateia uma revolução, amanhã executa-se no meio do indiferentismo geral, e sem apostolado prévio, sem providências repressivas, nem castigos. Mistérios das massas, que mais convém ao legislador estudar, do que tentar destruí-los; oferecem a resistência das leis naturais.
O conselheiro e toda a família tomaram luto como parentes do ervanário, e receberam as visitas de pêsames, que, em parte, eram também de parabéns pelo êxito do sufrágio popular.
Ao fim da tarde em que se realizou a cerimónia fúnebre, quando soavam na igreja matriz as badaladas das Ave-Marias, Augusto entrou no cemitério, já deserto, e aproximou-se lentamente da sepultura, inda coberta de pouco, como o denunciava a terra revolvida.
Ele, cujo coração era, decerto, o que a morte do ervanário mais dolorosamente ferira, não recebera pêsames de ninguém. Passara a tarde só com o seu pensamento, o qual, como o leitor prevê, lhe não devia ser muito jovial companheiro.
Quem observasse Augusto naquele momento, seria decerto impressionado pelo ar abatido, revelador de uma profunda prostração de ânimo, que lhe quebrara as forças.
Que era feito daquela energia, com que se revoltara contra as perseguições da sorte, e que lhe animara os primeiros passos para obter a justificação devida ao bom crédito do nome que lhe haviam legado sem mancha? Vimo-lo sair do Mosteiro resolvido a lutar, vimo-lo repelir com nobreza as ironias de Henrique, vencê-lo, obrigá-lo a pedir-lhe perdão; vimo-lo recusar o auxílio que este já lhe oferecia e considerar-se moralmente obrigado a conquistar ele próprio as provas da sua inocência.