Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 30: XXXI

Página 465

Que é feito dessa energia? O que é feito dela? Leitor, talvez o teu coração te possa responder por mim, se és uma dessas vítimas, para quem a sorte parece personificada em um espírito malfazejo, que se compraz nos martírios lentos.

Quando, uns após outros, se repetem os golpes da adversidade, quando todos os males parece caírem sobre uma existência, como uma maldição de Deus, é raro encontrar-se têmpera de alma tão rija que resista e não ceda, quase convencida, como o Jacob dos livros sagrados, de que luta com um poder superior.

A razão mais clara deixa-se tomar, então, da cegueira do fatalismo, e, eivado desta grave doença, dissipa-se a fortaleza do espírito, como se extinguem as forças do corpo, quando gira no sangue um veneno enervador.

Então, encontra-se quase um destes prazeres paradoxais, a que é tão sujeita a natureza humana: sente-se uma espécie de gozo em sucumbir sem luta. Experimenta-se, por assim dizer, o orgulho da extrema infelicidade.

Em poucos dias, Augusto conheceu as maiores provações da vida: a miséria em perspectiva, a ingratidão, o insulto que avilta, a calúnia que enodoa, e o infortúnio de um verdadeiro amigo; repelira com dignidade o insulto e a calúnia; sorrira à miséria e à ingratidão, e dera à amizade as consolações que a amizade lhe inspirara.

Mas não desfalecera com tudo isto.

Maior provação lhe estava reservada, porque há maiores provações para a alma humana do que todas estas adversidades juntas.

Apagai-lhe de súbito a estrela que a guiava; acordai-a do sonho em que se esquecia, dormindo no meio de uma desencantada realidade; privai-a da ideia querida, que havia muito concebera, que consigo vivia, que para si guardava, ciosa dos olhares estranhos, e vê-la-eis desnorteada, perdida, louca, contorcer-se em desespero e sucumbir.

<< Página Anterior

pág. 465 (Capítulo 30)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 465

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506