Transcrevemos algumas daquelas cartas, para o leitor julgar de todas.
Dizia uma: «Meu bom amigo. - Ontem, depois que nos separámos, recebi de Lisboa a encomenda que esperava. O Ângelo não se esqueceu. Mando-lha, para que mais uma vez faça de feiticeiro, adivinhando os gostos do seu amigo.
«Afianço-lhe que vai acertar com os desejos dele. Há tempos que o vejo, enquanto espera na sala por os pequenos, procurar de preferência na estante os livros de história francesa. Custa-me a perdoar-lhe os atractivos que tem para ele a Revolução, mas enfim seja feita a sua vontade. Escuso de lhe recomendar discrição. E, quando nos virmos, peço-lhe que me não torne a falar nos laços em que diz que eu estou a prender o coração. Mete-me medo.
Sua amiga, Lena».
Esta era uma das mais remotas em data.
Outras diziam: «Meu amigo. - Ontem separámo-nos de tão mau humor, que hoje acordei com remorsos e não pude sossegar enquanto lhe não escrevi para lhe pedir perdão. Espero que perdoará a este rebelde génio que tenho.
«Mas também para que me está sempre a ralhar? Não se assuste pelo meu coração; o maior perigo que o Tio Vicente receia para ele, faz-me sorrir. - É o de me apaixonar? - Então que tinha? Não sonhe com nuvens e vá representando o seu papel de adivinho, que é uma generosa acção que pratica.
Sua arrependida inimiga, Lena».
«Meu bom tio. - Aí vão uns livros, de que eu não entendo nada. Augusto falou deles ao filho do administrador, que veio de Coimbra. Conheci nele desejos de possuí-los. Tomei nota. O Ângelo remeteu-mos ontem. Para Augusto não desconfiar, finja atraiçoar um pouco o mistério, e fale no filho do administrador. Do mais, já nada digo.»
A de mais recente data dizia apenas: «Tio Vicente. - Pensei no que me disse do estado do coração do seu.