Ora anda, já que o outro foi tratante!...
O conselheiro sorriu ao expediente da cunhada, e não pôde deixar de dizer:
- Nesse caso deixava só ao Pertunhas a regência da filarmónica? E tu, Lena, qual é a tua opinião?
Madalena respondeu sem vacilar:
- A minha opinião é que o pai deve ir a casa de Augusto, pedir-lhe humildemente perdão pela ofensa que lhe fez.
- Mas involuntária - ponderou o conselheiro, em tom de despeito, que não pôde bem disfarçar.
- Mas ofensa - repetiu Madalena sem que o sorriso dissipasse totalmente a força da expressão.
- É um pouco dura de cumprir a sentença, sobretudo esse advérbio «humildemente»... Não lhe parece? - perguntou o conselheiro, voltando-se para Henrique.
- Eu tinha vontade de dizer também a minha opinião - respondeu Henrique -; mas receio certos melindres... Contudo, parece-me que encontraria uma recompensa, que poderia fazer esquecer a Augusto ofensas e dores muito mais pungentes do que as que sofreu em virtude desta desagradável ocorrência.
- Qual é? - perguntou o conselheiro.
Henrique olhou para Madalena, respondendo:
- Repito que tenho escrúpulo em dizê-lo, porque talvez não seja eu o mais competente para o fazer.
- Tem razão, primo - disse Madalena. - Ele próprio o dirá. É mais natural.
- Mas sabe-lo também tu, Lena?
- Sei.
- Então diz-no-lo. Melhor para mim, se puder prevenir desejos.
Madalena hesitou.
- Vamos, Henrique - disse Cristina, sorrindo - não esteja com tantos escrúpulos. Diga o que pensa.
- Pois quer? Mas se sua prima me não perdoa?
- Eu o protegerei. Fale.
- Então, Criste? - tornou Madalena.
- Bem; nesse caso... Visto que mo ordena quem pode.
- Fale, fale - disseram a um tempo o conselheiro, D. Vitória e D. Doroteia.