A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 494 / 508

Ora anda, já que o outro foi tratante!...

O conselheiro sorriu ao expediente da cunhada, e não pôde deixar de dizer:

- Nesse caso deixava só ao Pertunhas a regência da filarmónica? E tu, Lena, qual é a tua opinião?

Madalena respondeu sem vacilar:

- A minha opinião é que o pai deve ir a casa de Augusto, pedir-lhe humildemente perdão pela ofensa que lhe fez.

- Mas involuntária - ponderou o conselheiro, em tom de despeito, que não pôde bem disfarçar.

- Mas ofensa - repetiu Madalena sem que o sorriso dissipasse totalmente a força da expressão.

- É um pouco dura de cumprir a sentença, sobretudo esse advérbio «humildemente»... Não lhe parece? - perguntou o conselheiro, voltando-se para Henrique.

- Eu tinha vontade de dizer também a minha opinião - respondeu Henrique -; mas receio certos melindres... Contudo, parece-me que encontraria uma recompensa, que poderia fazer esquecer a Augusto ofensas e dores muito mais pungentes do que as que sofreu em virtude desta desagradável ocorrência.

- Qual é? - perguntou o conselheiro.

Henrique olhou para Madalena, respondendo:

- Repito que tenho escrúpulo em dizê-lo, porque talvez não seja eu o mais competente para o fazer.

- Tem razão, primo - disse Madalena. - Ele próprio o dirá. É mais natural.

- Mas sabe-lo também tu, Lena?

- Sei.

- Então diz-no-lo. Melhor para mim, se puder prevenir desejos.

Madalena hesitou.

- Vamos, Henrique - disse Cristina, sorrindo - não esteja com tantos escrúpulos. Diga o que pensa.

- Pois quer? Mas se sua prima me não perdoa?

- Eu o protegerei. Fale.

- Então, Criste? - tornou Madalena.

- Bem; nesse caso... Visto que mo ordena quem pode.

- Fale, fale - disseram a um tempo o conselheiro, D. Vitória e D. Doroteia.





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