A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 32: XXXIII Pág. 493 / 508

.. quero dizer - emendou, olhando para Cristina - a felicidade que me procurou sob a forma da doença... Cristina pagou-lhe com um sorriso o galanteio.

O conselheiro, que ficara pensativo depois das primeiras reflexões que lhe ouvimos fazer, disse, suspirando:

- Estou sentindo verdadeiros remorsos pelo mal que por certo causei àquele rapaz com as minhas suspeitas. Mas que havia eu de fazer? As aparências eram-lhe contrárias!... E depois, nesta vida de política, aprende-se tanto e tão depressa a duvidar!... É sorte minha! Homens, a quem eu estimava deveras, foram exactamente os que mais fiz padecer! Senão, vejam: o ervanário, meu companheiro de infância, e que sempre me teve amizade, apesar das aparências rudes de que a revestia, dispuseram-se as coisas de modo que o privei da casa em que nasceu e talvez lhe apressasse com isso a morte... E ele, coitado, vingou-se nobremente; mas vingou-se, porque nunca mais me sairá da ideia aquela cena da igreja. Augusto, um rapaz que conheci pequeno, e já então de viva inteligência e de sentimentos nobres..., pois tudo se conspirou para o perder, e não só o privei do modesto lugar que ele exercia, mas até levantei contra ele uma acusação infamante e quase o expulsei de minha casa... É triste que a vida política me tenha obrigado a estas crueldades! Preciso de compensar de alguma sorte o mal que fiz. De que maneira lhes parece melhor?

- Eu, se fosse a si - disse D. Doroteia - fazia como a morgada, e o rapaz, em vez de vir a ser só padre, havia de se formar em Coimbra, como o reitor de Friande...

- Isso era se ele quisesse ser padre - acudiu D. Vitória -; mas parece-me que não quer. Nada, nada, eu o que fazia era demitir aquele velhaco do Pertunhas, e dava a este o lugar de mestre de latim, e arranjava que ficasse também com o correio.





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