A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 4: IV Pág. 57 / 508

- E não o diga a rir. Se quiser prender-se à aldeia, abjurar os atractivos da cidade, deve rustificar-se em tudo: principiar por cultivar o interesse por as questõezinhas da terra; deve, por exemplo, declarar-se pelo abade contra a junta de paróquia ou pela junta de paróquia contra o abade; ralhar do regedor na questão com os taberneiros ou defendê-lo. Enquanto não chegar a isso, desconfie da sua aclimação.

- Farei por consegui-lo o mais depressa possível. Outra coisa necessária é deixar-me convencer ingenuamente dos inexcedíveis dotes de espírito das notabilidades da terra, o que é de rigor; estar em perpétua admiração diante de uns certos nomes famosos que há sempre em todas as terras pequenas, e que nos atiram à cabeça a cada momento. Por exemplo, aqui já sei de um, com que encherei a boca a propósito de tudo, é o de uma célebre Morgadinha dos Canaviais, pessoa em quem ouço falar desde que pus os pés, ou por mim a alimária que me trouxe, neste produtivo torrão.

Madalena sorriu de uma maneira singular, ouvindo isto.

- Então com que, tem ouvido falar muito nessa Morgadinha?

- Oh! Mas não faz ideia: de uma maneira desesperadora. Não há pinhal, quinta, azenha, choça ou lameiro que não pertença a essa entidade, para mim desconhecida. Este nome anda-me já nos ouvidos como um estribilho de cantiga popular; na estrada, nos campos, em casa de minha tia, na loja do correio, em toda a parte o ouço pronunciar. Parece que voga nos ares.

- Isso deve ter-lhe excitado a curiosidade de conhecer a pessoa.

- Qual! Tem-me impacientado a ponto de nem perguntar por ela. E demais parece-me que a estou a ver.

- Ora diga. Então como a imagina? Anica, não tens aí um guardanapo?

- Como a imagino? Imagino-a uma morgada, e está





Os capítulos deste livro