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Capítulo 1: I

Página 6

Foram estes os que, em parte de boa fé, em parte com o desculpável intuito de sacudirem de si tal pesadelo, lhe deram um dia de conselho que fosse viajar.

Henrique de Souselas julgou ouvir uma heresia nesta palavra: viajar.

Viajar? E os seus aneurismas? E as suas iminências apoplécticas? E as suas disposições para tantas outras enfermidades? Pois um homem pode lá viajar com esta bagagem patológica! E se lhe desse alguma coisa pelo caminho? Recusou com mau humor a receita, e ficou na capital.

Exacerbaram-se os padecimentos, repetiram-se as consultas, e os médicos, como se para isso apostados, a insistirem em que saísse de Lisboa.

- O senhor não tem nada - diziam alguns.

Henrique perdia a cabeça, ao ouvir isto.

Prolongou-se este estado de coisas, até que um dia o hipocondríaco rapaz persuadiu-se muito seriamente de que estava chegada a sua hora extrema.

Um médico velho e grave, que por essa ocasião o escutou, em vez de se rir dele, disse-lhe, muito sisudo:

- Homem! O senhor está realmente mal. Esse estado de imaginação não pode prolongar-se mais tempo, sem romper por aí em alguma doença que o sacrifique. Se quiser salvar-se, saia-me daqui, enquanto é tempo. Quebre com todos os hábitos, e escolha entre as fortes impressões de uma grande capital, como Paris ou Londres, ou as mornas sensações de um completo viver de aldeia. Os revulsivos e os emolientes curam por meios opostos às vezes as mesmas moléstias.

Ora sucedeu que nesse mesmo dia recebesse Henrique um presente de fruta de uma sua tia, santa criatura que ele, desde criança, não tornara a ver. Vivia regalada em uma aldeia sertaneja do Minho, onde na idade de cinco anos Henrique passara alguns meses na companhia de sua mãe.

Aquele presente frugal recordara-lhe esse tempo, já meio apagado na memória, e conseguira fazer-lhe saudades.

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Capa do livro A Morgadinha dos Canaviais
Páginas: 508
Página atual: 6

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 15
III 32
IV 49
V 68
VI 81
VII 95
VIII 113
IX 127
X 144
XI 160
XII 176
XIII 192
XIV 206
XV 226
XVI 239
XVII 252
XVIII 271
XIX 292
XX 309
XXI 324
XXII 339
XXIII 361
XXIV 371
XXV 383
XXVI 397
XXVII 404
XXVIII 416
XXX 440
XXXI 463
XXXII 476
XXXIII 487
Conclusão 506