De manhã parecera-lhe a aldeia um paraíso terreal; completara- o a figura de uma mulher; sem o sorriso dela nem o primeiro homem seria feliz no éden, onde a mão de Deus o colocara.
- Anda, vagaroso, anda - disse D. Doroteia a Henrique, assim que o viu chegar. - Se o jantar tiver esturro, a culpa é tua.
- Perdoe-me, tia. Demorei-me no Mosteiro...
- Ah! Foste lá? E então gostaste daquela gente?
- É uma família para o coração. Passa-se o tempo ali tão depressa! A Morgadinha, sobretudo, é adorável!
- Ai, ai; como ele nos vem! Olha lá no que te metes, menino! A mina boa é, mas... filho, anda ali encanto, que ainda ninguém descobriu.
Henrique fitou os olhos na tia Doroteia, que dissera isto com certa malícia.
- Que quer dizer, tia?
- Tu bem me percebes. Anda lá, anda. Se fizesses tu o milagre, se quebrasses o encanto, grande coisa seria; mas sempre te digo que não tomes a coisa a peito, que podes agravar o teu mal.
Henrique levou o caso a rir, mas é certo que esteve um pouco mais preocupado e distraído no resto da tarde.