A Morgadinha dos Canaviais - Cap. 6: VI Pág. 82 / 508

Ao sair dali, Augusto seguiu através de campos e à beira de valados, com aquele ar pensativo que lhe era peculiar.

O pouco que da história dele soubemos, pelas palavras da Morgadinha, é bastante para que nos não admire a quase incessante melancolia de Augusto.

Aos vinte anos e sem família! Com inteligência e mal podendo, à custa de sacrifícios, cultivá-la, e elevá-la à altura das suas aspirações! Alma generosa e compassiva, tendo muita vez de limitar-se a chorar os infortúnios que via, porque a pobreza lhe negava meios de remediá-los!... Não serão estas ainda nuvens bastantes para toldarem a luz de uma existência, embora a juventude a ilumine? Havia alguns anos que esta disposição para a tristeza se exacerbara em Augusto. Coincidiu o facto com algumas circunstâncias, que convém referir.

A morgada dos Canaviais, madrinha de Madalena e de quem viera a esta o nome de Morgadinha, pelo qual mais conhecida era na aldeia, havia, ao morrer, instituído um legado a favor de Augusto, então criança, com a condição de ele abraçar a vida eclesiástica.

O conselheiro, pai de Madalena, devia administrar este legado, educando o rapaz nas escolas de Lisboa ou Porto, desde o dia do seu primeiro exame até o da primeira missa, porque nesse lhe entregaria o capital por inteiro.

Isto sucedeu no tempo em que a mãe de Augusto, que havia dois anos viuvara, lutava com a miséria, e o rapaz, pela sua penetração e pelo entusiasmo com que aprendia, causava o espanto do velho mestre-régio da localidade.

Foi por todos abençoada a memória da morgada, por tão bem cabido legado, que era, ao mesmo tempo que remédio às privações de uma família, prémio e estímulo à inteligência e à aplicação de uma criança, que prometia vir a ser... Deus sabe o quê.





Os capítulos deste livro