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Capítulo 5: V - Uma manhã de Mr. Richard

Página 59
É mau costume.

E saiu da sala para o gabinete.

Jenny acompanhou-o.

– E demais nem tanto custa – dizia ele ainda, pelo caminho.

Enfiando o sobrecasaco e aceitando das mãos de Jenny o chapéu e a bengala, continuou no mesmo tom:

– Dá lugar a que se diga… a que se repare…

Calçando as luvas de pelica cor de cana, por uma esquisitice patriótica mandadas vir de Inglaterra directamente, resmoneou ainda:

– Não sei que custe muito estar alguns minutos no escritório. E, passado um momento:

– É feio, é feio.

Parecia, enfim, disposto a sair, mas Jenny, costumada a observá-lo, descobria-lhe certa hesitação, como se se travasse nele uma luta entre duas resoluções encontradas.

– Até logo, Jenny – dizia Mr. Richard, mas sem acabar de partir.

– Não sei o que me esquece! – murmurou depois com manifesta perplexidade.

Jenny correu os olhos pelo quarto.

– O lenço? – perguntou, oferecendo-lhe um que vira sobre o toucador.

– Ah! o lenço, sim… o lenço…

Era evidente que não estava satisfeito ainda.

– Agora… não me falta nada; adeus.

Jenny julgou que desta vez sempre iria.

– Ah! sim – continuava ele, parando novamente.

Jenny fitou-o com olhar interrogativo.

– Não sei o que… Ah!… Então… então Carlos… não se levanta esta manhã?

– Se quer que o chame?

– Não, não… É que…

E depois, interrompendo-se:

– Não é nada.

– Deseja que lhe dê algumas ordens?

– Não… mas… Enfim, o que é tem tempo.

– Mas diga; Charles não deve tardar a erguer-se…

– É que…

E Mr. Richard, com certo modo embaraçado, aproximou-se da secretária, abriu-a e tirou de lá um magnífico relógio de corrente, de construção inglesa, objecto que expressamente havia encomendado de Londres para presentear o filho no dia dos anos dele.

A ausência de Carlos, na véspera, impedira-lhe realizar o afectuoso intento.

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pág. 59 (Capítulo 5)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 59

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432