As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 101 / 174

Nesse momento uma sombra projectou-se na página. Era Tom Sawyer, que se adiantara, deitando um olhar para a gravura. Becky quis fechar o livro muito depressa, mas teve a pouca sorte de rasgar a página quase pelo meio. Atirou o livro para dentro da gaveta, deu a volta à chave e rompeu a chorar de vergonha e arrelia.

- Tom Sawyer, és o pior possível! Vieste atrás de mim para veres para onde eu estava a olhar.

- Como podia saber que estavas a olhar para alguma coisa?

- Devias ter vergonha de ser assim, Tom Sawyer; sabes perfeitamente

que vais acusar-me, e então que hei-de fazer? Sim, que hei-de fazer? Apanho pancada, o que nunca me aconteceu na escola.

Pouco depois, batendo com o pé, acrescentou:

- Essa acção fica contigo! Também sei uma coisa que vai acontecer! Espera e verás. És mau, mau, mau!

E, dizendo isto, saiu a chorar.

Tom ficou calado e surpreendido por esta acusação, mas, passado um instante, disse consigo:

- Que coisa estranha é uma rapariga! Nunca apanhou pancada na escola. Disparates! Como se apanhar pancada fosse uma grande coisa. É mesmo de rapariga. São todas muito sensíveis e medrosas. É claro que não vou acusar esta pateta ao velho Dobbins, porque há muitas outras maneiras menos mesquinhas de me vingar dela. Mas, que irá passar-se? O velho Dobbins há-de perguntar quem rasgou o livro e ninguém responde. Então, faz como de costume. Pergunta a um, depois a outro, e, quando chegar à rapariga que foi, fica logo sabendo, mesmo sem ela responder, porque a cara das raparigas denuncia-as sempre. Não têm presença de espírito. Já se vê que vai apanhar, e isso para ela é uma atrapalhação de que não pode sair.

Tom estudou o assunto ainda mais um momento e, por fim, concluiu:

- Deixa-la! Ela gostava de me ver numa atrapalhação destas, então que se governe.

Tom foi juntar-se ao grupo de crianças que brincava lá fora. Daí a pouco chegou o professor e a escola recomeçou.

Tom não tinha grande interesse pelo estudo e, de cada vez que relanceava um olhar para o lado das raparigas, a cara de Becky fazia-lhe pena. Não queria compadecer-se dela, mas não podia dominar-se inteiramente. Pouco depois foi descoberto o desastre do livro de leitura e, durante um momento, o espírito de Tom esteve absorto pelos seus próprios desgostos.

Becky pareceu despertar e interessou-se muito pelo que se passou.





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