As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 26: Capítulo 26 Pág. 125 / 174

No sábado, pouco depois do meio-dia, encontraram-se de novo junto da árvore seca. Fumaram, conversaram à sombra e, por fim, resolveram cavar mais um bocado no último buraco que tinham aberto, na véspera; não porque tivessem esperança de encontrar alguma coisa, mas simplesmente porque Tom disse serem frequentes os casos em que tinham sido abandonados tesouros no momento em que estavam a cinco centímetros, e que outros depois os tinham encontrado na primeira pazada de terra.

Ainda desta vez as pesquisas falharam, mas os rapazes saíram dali com a ferramenta ao ombro, sentindo que não tinham brincado com a sorte e antes tinham cumprido todos os preceitos inerentes à profissão dos que andam em busca dos tesouros.

Quando chegaram à casa assombrada, havia ali um silêncio de morte, que na solidão imensa do desolado lugar lhes fez recear, por momentos, o risco de entrarem.

Passados uns instantes de hesitação, chegaram até à porta e espreitaram. Viram o chão, já sem sobrado, invadido pelas ervas, as paredes com o estuque esburacado, a escada meio desfeita, as janelas sem caixilhos e, a um canto, uma chaminé; por todos os lados pendiam teias de aranha esfarrapadas e cobertas de poeira. Momentos depois entraram, devagarinho e com o coração a bater fortemente; falavam em segredo e apuravam o ouvido para os mais leves ruídos, retesando os músculos, na ideia de fugirem ao primeiro alarme.

Mas, daí a pouco, já familiarizados com o lugar, sentiam que o medo dera a vez a uma curiosidade cheia de interesse e, admiradíssimos, pensavam na sua audácia. Em seguida lembraram-se de ir ao andar de cima. Dali, a fuga era mais difícil, se não impossível, mas começaram a meter-se em brios um ao outro, e isto só podia ter um resultado. Puseram as ferramentas num vão e subiram.

Em cima havia os mesmos sinais de ruína. A um canto descobriram um armário com ar misterioso, mas tiveram uma decepção, pois não havia nada lá dentro. Estavam já cheios de coragem e decididos a voltar para baixo, para começarem a trabalhar, quando Tom disse, pondo um dedo nos lábios:

- Escuta! Não faças barulho.

- Que é? - perguntou Huck, pálido de medo.

- É ali. Não ouves?

- Ouço. Fugimos?

- Cala-te! Não te mexas. Não percebes que se encaminham para a porta?





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