Subirei aos céus num «leito» florido
Enquanto outros lutam em «mares» sangrentos.
Consideravam-no um leitor maravilhoso. Nas reuniões promovidas pelos membros da igreja incumbiam-no sempre de ler versos e, enquanto lia, as senhoras levantavam as mãos, deixando-as cair no regaço, fechando os olhos e sacudindo a cabeça como quem diz: «Não há palavras para descrever isto; é belo de mais, belo de mais para este mundo.»
Cantando o hino, o reverendo Mr. Sprague virou-se para ler uns papéis que estavam afixados na parede. Estes anúncios de reuniões e de várias outras formalidades pareciam prolongar-se até ao fim do Mundo - um estranho costume ainda hoje usado na América, mesmo nas cidades, e já posto de parte entre nós, nesta época em que os jornais abundam. Acontece muitas vezes que, quanto menos fácil se torna a justificação de certos hábitos, mais nos custa libertar-nos deles.
Em seguida o padre disse a oração. Uma oração boa, generosa e extensa. Orou pela igreja e pelos paroquianos; pelas igrejas da aldeia; pela própria aldeia; pela província; pelo Estado; pelos empregados do Estado; pelos Estados Unidos; pelas igrejas dos Estados Unidos; pelo Congresso; pelo presidente; pelos membros do Governo; pelos pobres marinheiros que navegavam em mares tempestuosos; pelos milhões de pessoas oprimidas sob o tacão das monarquias da Europa e do despotismo do Oriente; por aqueles que tendo a luz a não viam, e que tendo o bem o não reconheciam; pelos ateus nas ilhas longínquas no mar, e terminou com uma prece para que estas suas palavras encontrassem graça e favor e fossem como semente em boa terra frutificando a seu tempo. Ámen.
Houve uma restolhada de saias e a congregação que estava de pé sentou-se. O rapaz cuja história contamos neste livro não apreciou a oração; suportou-a, se é que a suportou. Esteve quieto o tempo todo, e conservou-se a par dos pormenores da oração, porque sabia mais ou menos como costumavam suceder-se, mas não porque escutasse. Por isso, quando o padre intercalava qualquer nova frase, notava-o e indignava-se, pois considerava isso um abuso. Quando a oração ia em meio, uma mosca pousou nas costas da cadeira à frente dele, e ali se conservou torturando-lhe o espírito com os seus movimentos.