As Aventuras de Tom Sawyer - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 51 / 174

É uma confusão e não me lembro de nada do que se passou. Ouve lá, Joe, muito a sério, fui eu que fiz isto? Não pensava em tal!

Juro pela minha alma e pela minha honra que não pensava em tal, Joe. Como foi isto? É horrível. Ele era tão novo e inteligente!

- Vocês estavam os dois a lutar e ele deu-te uma enorme pancada com a tabuleta, que te estendeu ao comprido; logo em seguida levantaste-te a cambalear, pegaste na navalha e meteste-lha no corpo, exactamente no momento em que ele te descarregava outra cacetada. Então ficaste como morto, até agora.

- Eu não sabia o que fazia, Joe. Eu morra já se sabia! Deve ter sido tudo por causa do uísque e deste maldito trabalho. Nunca na minha vida me servi de uma arma. Tenho bulhado, mas nunca com armas. Todos sabem que é assim. Oh! Joe, não digas nada a ninguém! Promete que não dizes, joe, e que és um bom camarada. Sempre fui teu amigo e te defendi também. Lembras-te? Não dizes, pois não?

O pobre homem caiu de joelhos diante do assassino impávido, e pôs as mãos numa súplica.

- Não. Sempre foste leal comigo, Muff Potter, e não te farei o comtrário. Parece-me que isto é o mais que se pode dizer.

- Oh! Joe, és um bom camarada. Hei-de abençoar-te até ao último dia da minha vida! - disse ele, já a chorar.

- Acaba com isso. Não é altura de pieguices. Vai por aquele caminho, que eu vou por este. Mexe-te e não deixes ficar rasto.

Potter pôs-se a andar, num passo rápido que em breve se tornou uma corrida. O mestiço ficou a olhá-lo e resmungou:

- Se ele está tão aparvalhado da pancada e confuso com a bebida como parece estar, só se lembrará da navalha quando for longe; então terá medo de voltar para trás e vir sozinho procurá-la a um lugar destes. Cobarde!

Passados dois ou três minutos, a Lua, descobrindo de novo, iluminava o homem assassinado, o outro morto envolvido num cobertor, o caixão sem tampa e a cova aberta, no cemitério agora deserto. O silêncio era absoluto.





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